Folha de S. Paulo
3/7/2006
O recente massacre de 13 pessoas que teriam ligações com bandos
criminosos, notadamente o PCC, demonstra mais uma vez a fragilidade
de algumas de nossas instituições mais importantes -a Justiça e a
polícia.
A sociedade ainda não encontrou outras formas de se defender. Assim
como os Exércitos defendem as nações, a polícia defende cidadãos. E a
Justiça defende e aplica os instrumentos legais para manter o
equilíbrio social. Num caso como o do massacre, não está provado
ainda que a polícia agiu corretamente, aumentando as suspeitas de que
há em São Paulo uma espécie de Esquadrão da Morte para eliminar não
apenas criminosos mas pessoas que, por um motivo ou outro, desagradam
a alguns policiais.
Evidente que a sociedade exige uma rigorosa apuração dos fatos, mas
desde já estranho que a investigação seja sigilosa. De duas, uma: ou
a polícia agiu preventivamente matando elementos que provocariam um
novo banho de sangue em São Paulo, ou agiu desastrada e
criminosamente, assassinando supostos malfeitores.
Bem verdade que, nesse caso como em outros, os parentes das vítimas
alegam que se tratava de bons filhos, bons irmãos, bons vizinhos. A
apuração dos fatos, quer da parte da polícia ou da Justiça, não
precisa apelar para o sigilo, uma vez que o episódio foi notório, os
envolvidos (passivos e ativos) conhecidos.
O aumento da criminalidade, incluindo o terrorismo internacional,
continua provocando ações ditas preventivas sem apoio numa realidade
que possa ser provada. Num exemplo exagerado, envolvendo nações,
tivemos o caso da guerra preventiva de Bush contra o Iraque.
Aplicando o mesmo princípio, a polícia paulista pode ter agido de
forma equivalente.
Sabe-se hoje que Bush mentiu. É preciso provar agora que a policia
também está mentindo.