Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 09, 2006

Brasília está brincando com coisa séria :Alberto Tamer Estado

Não! Não dá para entender o que está acontecendo no Ministério da
Fazenda. Mas não dá mesmo. Após reunir-se exaustivamente com
empresários brasileiros, principalmente exportadores, o ministro
Guido Mantega convenceu-se de que não tinha sentido obrigar os
exportadores a internalizar os dólares recebidos pelas suas vendas
para depois ter de comprá-los de novo quando forem importadores. Era
uma espécie de samba-do-crioulo-doido, porque, quando entravam com os
bilhões de dólares recebidos no exterior, derrubavam o câmbio,
valorizavam o real. E daí? Onde o samba? Daí que, com o real
valorizado - em parte por eles mesmos "por obrigação do governo!" -,
perdiam competitividade, pois exportavam por um dólar desvalorizado.
Nem no país mais subdesenvolvido da África se fazia isso.

Pois bem, o ministro entendeu, prometeu e anunciou que isso ia ser
resolvido. No fundo, disse ele, queremos aumentar as exportações e
podemos fazer isso sem pressionar a inflação decorrente da redução do
valor do dólar. (Isso, aliás, está levando empresários a importar
produtos inteiros que estavam produzindo no Brasil! Outro samba-do-
crioulo-doido.)

Era o lógico, o esperado, pois se tratava de uma política justa,
beneficiando não o chamado lobby industrial, que existe, sim, mas
todos os exportadores brasileiros que conseguiram o verdadeiro
milagre de fazer crescer as até então minguadas exportações, de US$
60 bilhões para US$ 120 bilhões em apenas três anos.

'SURPRISE, SURPRISE...'

Mas eis que o novo secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Júlio Gomes de Almeida, um respeitado técnico do setor
privado, até o momento de pisar em Brasília e sentir o sabor do
poder, condenou a medida! E sabem por quê? (Por favor, isto é sério,
não riam...) Porque isso iria provocar perda de receita da CPMF,
aquele eterno imposto provisório, em... em... R$ 200 milhões (de
reais, sim, não de dólares!!!)

Ninguém entendeu nada, tal o absurdo da situação. O ministro do
Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que não fala o que acha que
deve falar, creio, mesmo que pasmado, declarou que o novo secretário
deve estar "equivocado" ao falar em perdas tributárias.

E AGORA?

Está armado o impasse que turva a boa notícia anunciada por Mantega
de vir a fazer, finalmente, uma reforma cambial, como o mercado
brasileiro demanda desde que o câmbio começou a flutuar no Brasil, em
janeiro de 2001. Uma reforma dos regulamentos, dinossáuricos, da era
Vargas, quando o Brasil só exportava café e outros produtos agrícolas
de menor importância. Hoje, não, ao contrário do que se fala no
Planalto, as empresas brasileiras têm produtividade e marcas para
competir no exterior, não precisam ficar amarradas na América do Sul
- com o tal do Mercosul incluindo a Venezuela, que não tem nada além
de petróleo - aliás, que nós também já temos e exportamos...

O generalíssimo presidente venezuelano, Hugo Chávez, é um tirano
especial muito esperto que está engolindo com facilidade nossos
governantes... de Brasília, do Planalto e arredores, iniciando pelo
gabinete do presidente e passando pelo belo edifício do Itamaraty.

CHEGA! VAMOS EM FRENTE!

Há ainda uma onda de especulação por lá, daquele tipo tradicional que
a burocracia estatal é mestre quando é obrigada a aprovar alguma
coisa, mas não quer vê-la posta em prática. Os papéis rumam para cá e
para lá, ouve-se até o ministro das Cidades, sim, tem isso também, e
o do Meio Ambiente .

Comércio exterior é um assunto sério, sustenta com esforço a nossa
parca economia. Por que não fazer o óbvio como sugerido pelo senador
Bezerra? No seu projeto de lei dispensa-se a chamada cobertura
cambial de 100% dos produtos, mas preserva-se, na alçada do CMN, o
direito e o dever de mudar a regra em caso de crise. Como sempre
esteve... em crise, muda-se tudo, eles podem mudar tudo...

A discriminação, seja por porte de empresa, seja por produto ou
setor, também não é desejável em um país que pretende ser moderno e
em linha com o resto do mundo desenvolvido

E, só para encerrar, que ninguém se iluda com a festa de compras que
domina a indústria e o comércio interno brasileiro. Qualquer aprendiz
de economia sabe que isso é devido unicamente às "generosidades"
eleitorais, aos gastos de campanha, enfim, à injeção de dinheiro que
dura até as eleições, mantém fôlego nos dois últimos meses do ano com
o 13º salário, e acaba no primeiro trimestre do ano que vem.

Resumindo: senhores de Brasília, não brinquem de demagogos com o
comércio exterior, pois são as exportações que vêm gerando empregos,
a festa lá fora pode acabar e o Brasil representa pouco mais de 1% do
comércio mundial. Nem entramos no campo para torcer pela Copa do
Comércio. Estamos ainda fora do campo, tentando entrar e para
assistir ao jogo do Brasil contra Zidane sozinho... Não precisamos
que o governo atrapalhe, pois somos simplesmente torcedores marginais
no comércio mundial. Acordem, senhores! Chega de criar sambas-de-
crioulos-doidos e blablablás burocráticos num assunto do qual depende
o emprego do povo, que vai continuar sofrendo mesmo depois das eleições.

Arquivo do blog