Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 06, 2006

Alberto Tamer - A economia não vai desabar O Estado de S. Paulo

6/7/2006

Mais sinais de desaceleração da economia americana, nesta semana,
compensados com números animadores na Europa e no Japão, sem contar a
China, que cresce a 10,3% e recebeu US$ 72 bilhões de investimentos
em 2005.

É como se surgisse um quadro novo para o segundo semestre e, nas
pinceladas que faltam, o Brasil - com sua festança irresponsável de
gastos eleitorais - nem sequer aparece.

É sempre assim. Joga-se a bola para a frente errando passes e saindo
depois atrás dela, numa corrida eterna e sucessiva com o placar de
crescimento médio de 2% nos últimos 20 anos. Não faz mal, como diria
alguém: "A gente tem tempo..."

EUA, PIB DE 2,9%
Mas o tema da coluna é outro, o novo cenário que começa a desenhar-se
no horizonte externo.

Nesta segunda-feira, a equipe do Wall Street Journal ouviu 56
economistas que revisaram suas projeções de crescimento do PIB para
este semestre. O consenso foi de que, ajustado pela inflação, o PIB
deverá cair para 2,9%, anualizados, em comparação com 5,6%, também
anualizados, no primeiro trimestre. Pode haver surpresas - isso já
aconteceu -, mas poucos acreditam que crescimento do PIB passe muito
de 3%. Os consumidores continuam ávidos, comprando e se endividando,
mas o setor imobiliário que vinha há mais de 4 anos puxando a
economia já confirma sinais de esgotar-se. Agora só estariam no
mercado os aproveitadores, isto é, os que compraram para revender e
ganhar.

EUROPA E JAPÃO SALVAM?
Ao mesmo tempo que a economia americana esfria e pede socorro, nesta
semana a Europa deu os primeiros sinais de reativação. Para surpresa
geral, o DIW, que congrega seis respeitados institutos de pesquisa,
concluiu suas consultas prevendo crescimento de 1,8%, neste ano. E,
isso, após seis anos de semi-estagnação, em torno de 1%, quando
muito. Para eles o crescimento não está sendo puxado só pelas
exportações, como antes, mas também por "forte aumento da demanda
interna e novos investimentos".

"Existem pressões inflacionárias, 2,5%, mas, desta vez, não só a
Alemanha mas também outros países da zona do euro, absorveram bem a
alta de 0,25 ponto do Banco Central Europeu. No primeiro trimestre, a
demanda interna alemã cresceu 2,1%, a maior desde a estagnação
iniciada em 2004.

E O JAPÃO CHEGOU...
Mas a pincelada mais preciosa neste novo quadro da economia mundial
está vindo do adormecido Japão, que há quase dez anos estagnou e
vive, ainda, sob a ameaça da persistente deflação - forte fator de
desestímulo ao consumo, grave num país que vive a cultura de não
consumir e poupar.

Após vários sinais falsos, agora tudo indica que a economia japonesa
acordou. Cresceu no primeiro trimestre a um ritmo anual de 3,1%, mas
foi de 3,8% em maio, após anos e anos e de juro de 0% (zero por
cento!) fortemente negativo diante de uma inflação de 1,5%. A
produção industrial impulsionada por novos e surpreendentes
investimentos está crescendo a 3,6%, absorvendo gradualmente o
desemprego de 7,7% da força de trabalho.

O crescimento do PIB de 3,8% é o melhor resultado, acreditem, desde
1945, após a 2ª Guerra Mundial. São investimentos que estavam
congelados desde 1990 à espera de sinais de demanda.

O% DE JUROS!
Nem mesmo um juro de 0% por longo tempo, fortemente negativo - a
inflação é de 1,7% -, havia animado os japoneses a comprar. Povo e
governo só poupavam! As reservas cambiais do Japão elevam-se à soma
astronômica de US$ 800 bilhões, o superávit comercial, de US$ 162
bilhões em abril, aumentou nada menos que 35% em maio, basicamente
por causa das exportações para a China. Apesar da oposição quase
geral, o Banco Central deve "aumentar" o juro de 0%... Se o Japão,
segunda economia mundial, mais de US$ 4 trilhões, e a União Européia,
cerca de US$ 11 trilhões, confirmarem a retomada, poderão compensar a
retração americana. Faltam ainda algumas pinceladas, mas o que hoje
estamos vendo agrada. A economia mundial não vai desmoronar.

ERREI. PERDOEM-ME
Na coluna de domingo EUA crescem com juro e generosidade, errei
redondamente ao atribuir a Warren Buffett a criação e presidência dio
Wal-Mart. Ele ficou bilionário no mercado financeiro e doou 85% da
fortuna pessoal do seu fundo de investimento Berkshire Hathaway. O
Wal-Mart foi criado por Sam Walton e a família doou US$ 1,3 bilhão
como filantropia. Agradeço os e-mails dos leitores, todos gentis, que
já considero meus "colaboradores não remunerados..." Entre tantos,
destaco dois, pelos termos gentis: Nelson Coslovsky e Paulo Ungar.
Perdoem-me o erro e continuem sempre me vigiando e me corrigindo.
Recebo isso, assim como as críticas e elogios, com humildade.
Obrigado mesmo!

A propósito, quem quiser saber mais sobre o assunto leia a Veja desta
semana, com trabalhosa e excelente reportagem dos colegas Marcio
Aith, Giuliano Guandalini e Chrystiane Silva. Eles esgotam o assunto.
Vale a pena ler e guardar.

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