O GLOBO
Apesar de ser um concorrido ponto turístico com atrações como as Cataratas, uma das três maiores do planeta, e a usina hidrelétrica de Itaipu, uma das "7 maravilhas do mundo moderno", Foz do Iguaçu sofre um pouco por sua situação geográfica. Fazendo parte da Tríplice Fronteira com Paraguai e Argentina, paga pela má fama de sua vizinha Ciudad del Este, no outro lado da Ponte da Amizade.
A cidade paraguaia é tida como a meca do ilícito e do penal. "Lá pode-se comprar absolutamente de tudo", escreveu o jornalista Jeffrey Robinson no livro "A globalização do crime". Com "tudo" quis dizer, exagerando, drogas, armas, sexo barato e até "partes do corpo no atacado para transplantes". Segundo ele, os terroristas do Hezbolah usaram o local como base para os atentados contra a comunidade judaica em Buenos Aires em 1992 e 1994.
Muitas dessas histórias ou lendas migraram para o lado de cá, principalmente depois do 11 de setembro americano. A CIA e a Interpol, desconfiadas da grande presença muçulmana na região, lançaram a suspeita de que membros da Al Qaeda teriam conseguido apoio financeiro aqui. Em 1995, chegou-se a noticiar que Bin Laden passara três dias em Foz do Iguaçu, fazendo reuniões na mesquita sunita da cidade. As pessoas riem dessa versão. Aliás, Foz tem humor. Não por acaso ela realiza o Festival Internacional do Humor Gráfico, o maior do mundo (outro superlativo nessa terra de tantos). Na sua terceira edição este ano, inscreveram-se quase cinco mil artistas de 92 países, inclusive Iraque. Trezentos chegaram às finais e cinco foram premiados.
Entende-se assim que a resposta ao que foi considerado uma campanha para manchar a reputação da cidade tenha sido a gozação através de anúncios. Em um deles, o jornalista Rogério Bonato colocou como legenda de uma foto do terrorista o seguinte texto: "Se Bin Laden teria arriscado o pescoço para visitar Foz do Iguaçu, é porque vale a pena. O que você está fazendo aí que ainda não veio?"
Consta que houve uma forra melhor ainda: espalhou-se que um Encontro Internacional de Terroristas se realizaria aqui. No dia marcado, Foz foi invadida por jornalistas de toda parte para cobrir o que, claro, nunca houve. Em compensação, eles puderam ver um espetáculo que supera tudo o que se possa imaginar. As Cataratas do Iguaçu impressionam não só pelo impacto visual como pelo efeito sonoro de uma muralha líquida se despencando de 20 metros de altura. É um barulho surdo, constante, primal, talvez só comparável ao de um vulcão em erupção. Diante dessa exagerada manifestação da natureza, a gente se sente tão impotente quanto me sinto agora para contar a experiência.