Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 03, 2005

VEJA MILLÔR

LULA FALOU E DISSE:
                                                                        
Toda probidade é altamente suspeita.

Não chega não, mermão?

Aos 20 anos, abri o livro de definições de Ambrose Bierce (Devil's Dictionary – O Dicionário do Diabo, que hoje tem tradução em português) e li esta definição: White (substantivo): Black. Fechei o livro. Por que continuar a ler, diante dessa definição tão definitiva, e universal? Tudo é assim, em todas as circunstâncias, em todas as afirmativas, em todas as filosofias, em toda a vida: Branco é Preto.

E como poderia Bierce imaginar, ao propor, no início do século XX, essa definição simples e audaciosa que, trinta anos depois, um garoto carioca, na Universidade do Meyer, iria lê-la, e entendê-la?

E por que o garoto ia continuar a ler mais alguma coisa? Aquilo não lhe bastava?

Bastava. Bastou-me. Pra sempre uma lição. Daí em diante, toda vez que lia alguma coisa, e deparava com algo que me impressionava especialmente, deixava de ler, satisfeito com o que lia. Exemplo: lendo um livro sobre Rabindranath Tagore, também parei de estalo. O texto dizia (guardei na memória):

"Seu pai, o Santo, viu Abdul Khan (?), o último dos imperadores mongóis, soltando pipa nas muralhas de sua fortaleza". Espera aí, o pai de Rabindranath, o grande poeta da Índia, belo gigante de 2 metros de altura, músico, teatrólogo, pintor importante, prêmio Nobel de Literatura, autor do hino nacional da Índia, pois é, seu pai-santo (está bem, um dos milhares de santos da Índia, mas santo, anyway) "viu o último dos imperadores mongóis soltando pipa nas muralhas de sua fortaleza". E eu ia ler mais? Que mais ia encontrar? Que mais eu poderia querer depois dessa imagem, pombas?!

Pois façam como eu. Nunca mais, em minha vida, quando qualquer coisa me enchia as medidas, eu quis mais.

Até com Lula, apesar de encantado com mis declarações suas, parei de ouvi-lo depois que disse: "Minha mãe é uma mulher que nasceu analfabeta".

A frase, capacidade de resumo e universalidade inexcedíveis, descoberta insuperável do óbvio, me deixou flabbergasted. E decidi cá comigo – pra mim basta (no melhor sentido) de afirmações do presidente.

Pelo mesmo motivo, hoje em dia não leio nem mais Paulo Coelho. Estou lendo e refletindo apenas sobre um autor – Wittgenstein. A esse, o maior filósofo do século XX, se não de todos os tempos, a quem até Bertrand Russel um dia deixou de entender, eu dedico agora todo o meu tempo. Há seis meses estudo apenas sua proposição básica:

"A é o mesmo que a letra A".

Ainda não cheguei a uma conclusão. Mas me disseram que Lula pensa exatamente o contrário.



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