20 milhões de votos
E os cidadãos ao lado, Serra e Alckmin, são
os beneficiados pela crescente antipatia
do eleitorado com o atual presidente da
República. É o que mostram as pesquisas
Marcelo Carneiro
Ernesto Rodrigues/AE![]() |
Serra ganharia de Lula já no primeiro turno. Alckmin sobe como um foguete. Os próximos meses prometem luta |
O Ibope divulgou pesquisa que, pela primeira vez, aponta para uma derrota do presidente Lula nas eleições de 2006. Segundo o levantamento, Lula perderia para o tucano José Serra, prefeito de São Paulo, já no primeiro turno das eleições de 2006, com um placar de 37% a 31%. As pesquisas mostram ainda a ascensão rápida do também tucano Geraldo Alckmin, governador de São Paulo. Quando o nome dele aparece como o escolhido pelo PSDB para enfrentar o presidente, Alckmin, que nunca fez campanha nacionalmente nem ocupou cargos federais, perde por apenas quatro pontos – quase dentro da margem de erro estatístico. Os números da pesquisa mostram Lula em uma rampa descendente íngreme na preferência popular – enquanto na rampa oposta, ascendente, estão vindo seus potenciais contendores na campanha do ano que vem.
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Com base nos dados da pesquisa do Ibope e com a ajuda de técnicos do instituto, VEJA transformou as porcentagens em números absolutos e comparou-os aos resultados obtidos nas últimas eleições presidenciais pelos então candidatos Serra e Lula. O resultado é impressionante. Consagrado nas urnas em 2002 com 52 milhões de votos, Lula, três anos depois do pleito, perdeu 20 milhões de eleitores. Isso significa que quase 40% das pessoas que o queriam na Presidência hoje não querem mais. Só na Região Sudeste (que reúne 45% do eleitorado brasileiro), o presidente viu desertarem 10,6 milhões de eleitores desde que assumiu o cargo. O cálculo foi realizado com base nos porcentuais de intenção de voto atribuídos a Lula e Serra em um hipotético segundo turno – ponderados os índices de abstenção registrados nas eleições de 2002 em cada região do país e descontados os votos brancos e nulos. Por essas mesmas contas, Serra ganhou 11 milhões de eleitores em relação à última eleição presidencial. No dia seguinte à divulgação da pesquisa do Ibope, o Datafolha anunciou a sua, com números praticamente idênticos.
Joedson Alves/AE![]() |
O presidente Lula: a popularidade do petista diminui entre os mais pobres |
Além de mostrar a desidratação do presidente em seu penúltimo ano de mandato, os estudos embutem outra conclusão, igualmente devastadora para Lula: a se confirmar a paisagem que se desenha no horizonte, os tucanos têm chances reais de liquidar a fatura já no primeiro turno das eleições de 2006. A corroborar essa tese está o fato de a política assistencialista de Lula não estar conseguindo segurar o eleitorado de baixa renda. Os analistas observam também que a escolha no segundo turno é feita pelo eleitor com base na rejeição que ele tem de determinado candidato. É duro reverter o sentimento de rejeição, seja no amor, seja na política. Lula tem apenas nove meses para tentar um truque de palanque capaz de diminuir a aversão que sua imagem hoje provoca em pelo menos 20 milhões de antigos apoiadores. É muito pouco tempo.
Na última pesquisa CNT/Sensus de novembro, o petista apresentou uma taxa de rejeição de 47%. O dado é preocupante para o governo na medida em que se sabe que, historicamente, candidatos com índice de rejeição acima de 40% só em raras situações conseguem sair vitoriosos de um pleito. Isso porque, no Brasil, os índices de abstenção – somados às porcentagens de votos brancos e nulos – chegam à casa de 20% em votações de segundo turno. Dessa maneira, restariam 80% de votos a ser divididos entre os dois candidatos. Se um deles tiver taxa de rejeição superior a 40%, não conseguirá fazer maioria absoluta. "Lula tem de diminuir drasticamente sua taxa de rejeição, o que será difícil a nove meses da disputa", afirma o cientista político Antônio Lavareda.
Daniel de Cerqueira/AE![]() |
Garotinho: abandonado pelos governistas, é a ameaça populista de sempre |
Há ainda um último elemento que sinaliza a possibilidade de uma derrota de Lula já no primeiro turno. O prefeito de São Paulo, a despeito de continuar ostentando uma hesitação pública em relação à sua pré-candidatura, vem mantendo contatos com o presidente nacional do PMDB, Michel Temer. As conversas têm um objetivo: isolar o pré-candidato peemedebista Anthony Garotinho, já abandonado pela ala governista de seu partido.
Embora pesquisas a nove meses das eleições sejam tão falhas quanto as previsões meteorológicas de longo prazo, elas medem com precisão o humor atual dos eleitores. Esse humor mostra que milhões de brasileiros andam de cara amarrada com Lula. Mostra também que a disputa eleitoral de verdade se dará entre Serra e Alckmin no PSDB. Alckmin assumiu sua pré-candidatura na semana passada, dois dias antes da divulgação da pesquisa Ibope. Segundo o instituto, o governador tucano, que aparecia 10 pontos atrás de Lula na pesquisa anterior, hoje já surge tecnicamente empatado com o petista, numa eventual disputa no segundo turno. Para Alckmin, os resultados das pesquisas são extraordinários. Alguns analistas acreditam que Serra pode ter atingido seu ponto máximo de subida, enquanto Alckmin, quase um desconhecido nacionalmente, ainda tem muito que crescer.
Com reportagem de Juliana Linhares