Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 17, 2005

VEJA A Câmara inocenta o primeiro mensaleiro confesso

Os amigos ocultos

A Câmara absolve pelo voto secreto
deputado que pegou dinheiro ilegal


Alexandre Oltramari


Joedson Alves/AE
O deputado Queiroz, do PTB mineiro: ele diz que o dinheiro era para a campanha de colegas...


Estava indo bem demais para ser verdade. Na semana passada, a Câmara dos Deputados livrou da cassação o deputado Romeu Queiroz (PTB-MG). Com 250 votos contra a punição e apenas 162 a favor, Queiroz escapou de perder o mandato e os direitos políticos até 2015. Ele é o primeiro deputado a se livrar da cassação tendo, comprovadamente, recebido dinheiro clandestino do lobista Marcos Valério. Botou a mão em 453.000 reais. É também o primeiro deputado cuja absolvição em plenário contraria parecer do Conselho de Ética, que recomendou sua cassação. A decisão de inocentar Queiroz configura uma temeridade pelo que decreta e pelo que sugere. O que decreta: que 250 deputados acham que meter a mão em dinheiro clandestino é um ato inocente. O que sugere: que os outros mensaleiros podem ser tratados com a mesma benevolência e também ser inocentados. Afinal, se um parlamentar leva 453.000 reais e é inocentado, por que outros deverão ser condenados?



Até agora, dos dezenove deputados acusados de envolvimento com o escândalo do mensalão, quatro renunciaram, dois foram cassados e dois, absolvidos. Os outros onze que restam ainda aguardam julgamento – e nenhum deles esconde que sacou dinheiro na boca do caixa do valerioduto, à exceção do deputado Vadão Gomes, que jura jamais ter embolsado recurso ilícito algum. Como Queiroz, os mensaleiros afirmam que não usaram o dinheiro em benefício pessoal, mas em campanhas eleitorais próprias ou de aliados. O deputado mineiro, por exemplo, disse que era um "inocente útil" do valerioduto, pois não ficou com um único centavo para si e repassou todo o dinheiro ao partido e a campanhas de candidatos a prefeito do PTB em Minas Gerais, em 2004. O argumento é uma estupidez, na medida em que sugere que o crime deve ser atenuado dependendo do destino que se dá ao seu produto – sendo que, neste caso, definitivamente não existe um Robin Hood. Mas, como os deputados estavam decididos a inocentar Queiroz, qualquer besteira bastaria. A questão é saber se essa disposição para a impunidade vai permanecer nas futuras votações.

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