Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 07, 2005

ROGÉRIO GENTILE A lógica da politicagem

FSP
 SÃO PAULO - Embora higiênica, a cassação de José Dirceu poderá provocar o efeito colateral e danoso de salvar alguns dos demais envolvidos no escândalo do "mensalão".
Esboça-se entre os políticos o sentimento de que a morte de Dirceu já foi suficiente para satisfazer o eleitor, já provou à opinião pública que não houve pizza. E que, portanto, daria para retirar do cadafalso os mensaleiros "do bem", os gente fina.
João Paulo Cunha, aquele ex-presidente da Câmara dos Deputados que teve o desplante de mandar a própria mulher ao banco buscar a propina de Marcos Valério, é o que tem mais chances de sobreviver. Sujeito agradável, bom papo, tem a simpatia e a gratidão de muitos deputados.
Não importa que contra ele haja o agravante de que mentiu quando flagrado nu pelas investigações -sem ficar vermelho e com as mãos no bolso, afirmou à época que sua mulher tinha ido ao caixa apenas para pagar uma conta de televisão a cabo.
Não importa também que a CPI tenha provado que ele recebeu R$ 50 mil de Marcos Valério pouco tempo depois de a Câmara dos Deputados, sob a sua presidência, ter contratado a agência do publicitário por alguns cifrões. Ou seja, que houve corrupção na pura acepção da palavra.
O que vale realmente na lógica da politicagem é a sintonia fina das ruas. É saber como a opinião pública reagirá diante desta ou daquela decisão. Decoro é o de menos.
Tanto é assim que o próprio senador Aloizio Mercadante, antes "perplexo e indignado", já se anima a participar, na companhia da ex-prefeita Marta Suplicy, de atos em defesa do mandato de João Paulo.
Para Mercadante e sua gente, com o esgotamento da crise, com a sensação de fim de novela provocada pela cassação de Dirceu, o que conta mesmo são os interesses políticos imediatos. São os votos que um João Paulo da vida consegue cabalar na prévia do PT para o governo de São Paulo.

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