Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 07, 2005

FERNANDO RODRIGUES Vergonha em falta

FSP
 BRASÍLIA - O episódio Coteminas-José Alencar-PT evidencia outra vez a crise crônica de escassez de vergonha na política brasileira.
A empresa do vice-presidente recebeu em maio passado, em dinheiro, R$ 1 milhão pela venda de camisetas ao PT. Havia indicações de que os recursos eram de origem suspeita.
O tempo passou. O escândalo do "mensalão" pegou fogo. Não ocorreu à Coteminas vir a público relatar um fato tão exótico: o recebimento de R$ 1 milhão em dinheiro de uma funcionária obscura do PT.
Se a Coteminas faz tudo com nota fiscal, se o vice-presidente da República está tranqüilo, se o problema sempre esteve no PT, por que a Coteminas e José Alencar não se adiantaram relatando de uma vez ao país essa operação tão esquisita?
OK. José Alencar pode alegar desconhecimento. Poder, pode. Mas não cola. As contas do PT são públicas. A mídia publicou-as amplamente. Não há ali registro do pagamento de R$ 1 milhão. A direção da Coteminas poderia ter notado com facilidade esse buraco contábil. Acreditar que não o fez é crer na incompetência gerencial dessa empresa -algo desconectado da realidade.
A Coteminas, tudo indica, não cometeu ilegalidade. Foi apenas depositária de dinheiro ilegal. Esse já seria um problemaço quando os protagonistas são da iniciativa privada. O caso complica quando um dos atores ocupa o Palácio do Jaburu. É dever do homem público, do vice-presidente da República, alertar a sociedade sobre ilícitos que presencia.
O PT, de seu lado, sabe o nome de sua funcionária que entregou o dinheiro para a Coteminas. O partido limitou-se a emitir uma nota vazia, na qual nada esclarece.
O que acontecerá com mais esse escândalo dentro da crise? Possivelmente, nada. É tudo culpa de Delúbio Soares. O ex-tesoureiro já emitiu nota encaçapando mais essa. Delubianamente. Vergonha? Constrangimento? Ninguém tem.

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