FSP
A definição de um padrão brasileiro de TV digital foi um trabalho coordenado, juntando diversos institutos de pesquisa, cada qual incumbido de um ângulo, como o terminal de acesso, a modulação, o software básico. Foram feitos 20 editais, e as pesquisas se iniciaram no começo do ano. Nesta sexta-feira, serão apresentados os primeiros resultados. Mesmo assim, há que pensar seriamente antes de dar os passos definitivos.
Há muitos interesses em jogo e uma estratégia tecnológica complexa para não reinventar a roda, nem criar um produto de uso exclusivo, nem perder o bonde das próximas ondas.
Um padrão brasileiro de televisão digital teria sentido dentro das seguintes circunstâncias:
1) Se representasse, ao mesmo tempo, um diferencial em relação aos padrões internacionais, mas não a ponto de se configurar em uma ilha. Tem que haver a identificação de mercados potenciais externos capazes de proporcionar escala a essa tecnologia.
2) A escala é fundamental para baixar o preço, ainda mais em um país de baixa renda.
3) A absorção de tecnologia não pode ser considerada argumento definitivo na hora de definir um plano desses. Há duas maneiras de se capacitar em novas tecnologias: ou dominando uma tecnologia que já faz parte do presente; ou tentando identificar as novas ondas tecnológicas e começar a preparar o país para surfá-las. Ou seja, não adianta despender esforços e recursos em uma tecnologia em que existem parceiros mais fortes e se preparando há mais tempo. É mais sensato tentar estimar o que será o mercado daqui a dez anos, quais os novos setores que emergirão e preparar o país para atuar nesses setores.
4) Com a convergência de mídia, não se pode pensar mais em padrões tecnológicos isolados. Daí a importância de ampliar a participação do país em fóruns de definição de padrões tecnológicos. São esses padrões que definirão, futuramente, acesso a mercados. Cada país, cada empresa participa desses fóruns para conseguir emplacar condições que facilitem a sua vida e impliquem barreiras de entrada para os competidores.
5) Há que compatibilizar os diversos interesses envolvidos na história. Para os institutos de pesquisa, interessa apenas a pesquisa, o desenvolvimento. Em geral, não estão ligados em aspectos mais práticos, como competição mercadológica. Para a indústria, interessa o que for mais imediato e barato.
6) Não adianta mencionar possibilidades de integração digital, educação, atendimento das necessidades da população se o programa não vier acompanhado de políticas sociais integradas. É bonito para legitimar investimentos, mas não para alcançar resultados.
7) Qualquer mudança de padrão tem que levar em conta a legislação de radiodifusão. Em um mundo de convergência digital, de voz sobre IP, a definição sobre o novo papel da telefonia, da TV a cabo, da TV aberta, do rádio tem que ser equacionada antecipadamente. Acabou a era das concessões para rádio e TV.
Nas próximas colunas, procurarei trazer a opinião dos diversos setores envolvidos com o tema.
Entrevista:O Estado inteligente
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