Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 04, 2005

FERNANDO DE BARROS E SILVA Tráfico, terror, regressão social

fsp
 SÃO PAULO - O atentado ao ônibus da linha 350, na zona norte do Rio, que resultou esta semana na morte de cinco pessoas carbonizadas e deixou ao menos outras 13 feridas, talvez seja a primeira ação francamente terrorista praticada pelo tráfico.
O fato de que entre as vítimas estivessem um bebê de um ano e sua mãe, e que entre os sobreviventes, hospitalizado, esteja o pai da criança morta, confere ao episódio um adicional de brutalidade e de dor difícil de comentar e o inscreve na ordem das coisas intoleráveis.
Ontem, uma menina (ou criança?) de 13 anos confessou à polícia sua participação no crime e disse que a intenção da gangue que a aliciou era fazer queimar, sem exceção, todos os passageiros. O que dizer disso?
A lógica do terror, segundo a qual qualquer um pode ser vítima não mais apenas de uma bala perdida, mas de um crime deliberado, dirigido contra inocentes quaisquer, amplia o repertório dos barbarismos relacionados ao tráfico e representa um dado novo na tragédia social brasileira.
Mais do que uma novidade -que também é-, o ato terrorista ilustra um quadro de progressiva, anunciada e já monótona deterioração social associada ao enraizamento do crime organizado no país -fenômeno que já se conta em décadas e que há pelo menos 20 anos assumiu dinâmica perversa e configuração alarmante.
O agravamento do problema convive, porém, com a omissão criminosa do poder público, que também se mede em décadas, e a indiferença crescente de uma sociedade que está anestesiada, oscilando entre espasmos de pânico e revolta e um sentimento de impotência apática que vai acumulando ao seu redor um caldo de horror e ódio aos pobres em geral.
À sua época, o governo FHC lançou com estardalhaço um plano nacional de segurança, que não saiu do papel. O governo Lula é avesso até aos papéis. Foi incapaz até agora de discutir a descriminalização das drogas -o que mais é preciso para fazê-lo?
Que o doutor Thomaz Bastos seja mais respeitável que o casal Garotinho não basta para torná-lo menos cúmplice da incivilização brasileira.

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