Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 04, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Cada voto não é um voto

FSP
 BRASÍLIA - Afinal das contas, a queda do PIB em 1,2% no trimestre foi ou não foi resultado da crise política?
Para Palocci, claro que foi. Ele está fazendo o dever de casa direitinho, e culpa da economia é que não seria. Logo, só poderia ser da política.
Já para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a queda estonteante do PIB nada tem a ver com a crise política, com CPIs, denúncias e cuecas. Tanto que as Bolsas só sobem e o dólar só cai. Se a política estivesse minando a economia, seria o contrário. Tem lógica.
O fato é que o PIB negativo pode ou não ser resultado da política, mas certamente tem efeitos diretos na política. Caiu na cabeça de Palocci, do presidente Lula e do candidato Lula.
A previsão é que o resultado do ano fique por volta dos 2,5%. Como comparou Skaf, dentro do Palácio do Planalto e minutos antes de Lula adentrar ao recinto, o PIB médio mundial é duas vezes isso, o dos países emergentes, três vezes, e o da vizinha Argentina, quatro vezes. Faltou dizer que um PIB ao redor de 2,5% é equivalente à média da era FHC -e sem as sucessivas crises econômicas mundiais. Ou seja: sem pretexto.
Um resultado tão medíocre dá combustível aos críticos de Palocci e não anima ninguém, muito menos um presidente em campanha, a encher a boca para gritá-lo ao mundo e aos eleitores. Ao contrário: a economia estava a favor de Lula; passou a ser contra ele.
De cara, anulou um belo gol do governo Lula: o resultado da PNAD, mostrando uma expressiva melhoria dos índices de pobreza no Brasil. Como disse Lula, logo depois do veemente discurso de Skaf, havia muito ele "esperava por isso". Isso aconteceu, mas não repercutiu tanto. O PIB não deixou. Aliás, o PIB e a cassação de José Dirceu não deixaram.
Na balança político-eleitoral, maus resultados econômicos pesam mais (contra) do que bons resultados sociais (a favor). Por vários motivos, inclusive porque os Skaf dão manchete. Os miseráveis, não.

Arquivo do blog