Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 04, 2005

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Crescimento vergonhoso

FSP
 Uma das questões mais intrigantes do Brasil é a enorme distância que se estabelece entre a intenção e o ato de investir. As sondagens realizadas entre empresários indicam um grau de confiança bastante razoável. Mas, na hora "H", os investimentos ficam aquém do planejado.
Contrariando as expectativas detectadas nas últimas sondagens, os dados do IBGE acabam de mostrar uma retração do investimento e do próprio PIB. Conseqüência: o Brasil crescerá menos de 3% neste ano, quando a maioria dos países emergentes crescerá mais de 6%.
Ao lado de um PIB que encolhe, continua a avalanche de dólares que aqui chegam seduzidos pelas mais altas taxas de juros reais do mundo. Entretanto, poucos se dispõem a investir em produção e a gerar os empregos de que nossa juventude precisa.
Comemora-se o fato de o Brasil ter expandido suas exportações. Mas a nossa participação, em termos mundiais, regrediu em lugar de ampliar. Em 1985, o Brasil respondia por 1,3% das exportações mundiais. Hoje, responde por 1,1%.
Na raiz de tudo está a falta de investimentos produtivos. Investir sempre implica correr riscos. Mas implica também conseguir lucros e, daí para frente, instigar novos investimentos.
Investir na produção depende de fé na nação. Essa é a grande diferença entre os que produzem e os que especulam. Os primeiros acreditam no povo e constroem empresas para o longo prazo. Os segundos, mudam de posição em função das curvas dos monitores que exibem os lucros do dinheiro emprestado ao governo.
A inversão desse quadro só vai acontecer quando a economia emitir sinais corretos para que os produtores venham a se sentir mais atraídos do que os especuladores. Não é com taxa de juros real de 12% e carga tributária de 37% que se vai conseguir isso.
Na economia real, o que garante o sucesso é estímulo certo e muito trabalho. Com juros e tributos excessivos, as expectativas se deterioram. As novas estimativas de crescimento para 2005 estão em torno de 2,5%, e para 2006, 3,5%, considerando-se ser um ano eleitoral, quando se ativam os serviços e os governos se animam a investir em obras. Mas será que em 2007 chegaremos a um crescimento de 5% ou 6%?
É difícil que isso aconteça por inércia e com os problemas que atualmente minam a confiança dos produtores e o ânimo dos consumidores. O Brasil precisa investir 24% ou 25% do PIB -o que está muito distante dos 19% atuais. Isso exige a realização das importantes reformas que todos conhecem e que poucos governantes se dispõem a fazer com medo de perder votos.
Isso é o que mais preocupa, porque, ao tentar segurar os votos, esses maus governantes acabam piorando a nossa precária infra-estrutura, agravando o quadro social e reduzindo o desenvolvimento econômico.
Oxalá 2006 venha a ser o ano da grande virada. Já que a reforma política não vem, o importante é escolher com muito cuidado os que vão cuidar das políticas públicas nos próximos anos. É nossa maior esperança.

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