Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

BARBÁRIE NO RIO
Na noite de terça-feira, um ônibus que faz a ligação entre o centro e a zona norte do Rio de Janeiro foi interceptado por um grupo de marginais que incendiou o veículo antes que os passageiros pudessem desembarcar. Comparável a um atentado terrorista, a investida feriu 13 pessoas e resultou no assassinato de cinco passageiros, entre os quais uma criança de um ano e sua mãe. A selvageria teria sido perpetrada em represália à morte de um traficante durante uma operação policial realizada no início da semana.
Só neste ano, 73 coletivos foram alvo de ações como essa no Estado do Rio. O caso de terça, no entanto, apresentou uma novidade macabra: ficou patente a intenção dos criminosos de matar inocentes.
O episódio se inscreve num quadro de banalização da violência e derrocada do poder público, que se viu forçado a abandonar áreas inteiras da cidade-símbolo do Brasil à "jurisdição" do narcotráfico. O que se verifica no Rio não pode mais ser descrito como um processo de repressão ao crime. É uma espécie de guerra multifacetada, na qual quadrilhas impõem sua lei em favelas e bairros vizinhos, disputam entre si o controle de pontos-de-venda de drogas e enfrentam com crescente desenvoltura a polícia, cujas ações, lamentavelmente, não estimulam a população a acreditar num futuro melhor.
Não se trata, obviamente, de estigmatizar o Rio. O problema da violência é nacional. Mas na capital fluminense esse drama tem assumido contornos particulares e especialmente alarmantes. E isso não se deve apenas às singulares características topográficas da cidade, como muitos têm ressaltado, mas também à flagrante decadência e deterioração da esfera pública.
Não será com bravatas, como a defesa da prisão perpétua pelo secretário de Segurança do Estado, que o crime recuará. Sem ações integradas e persistentes, como as que vêm apresentando resultados em outras cidades, é difícil crer em progressos.

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