Entrevista:O Estado inteligente

domingo, dezembro 04, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

FORA DA CURVA
A forte queda do PIB no terceiro trimestre apurada pelo IBGE continua a repercutir intensamente. Entre empresários e trabalhadores do setor produtivo, o número é apontado como mais uma evidência de que têm fundamento suas repetidas críticas ao nível da taxa de juros e à excessiva valorização do real. Já a área econômica do governo prefere eleger outros "culpados": a crise política e a metodologia de mensuração do PIB empregada pelo IBGE.
Quanto à primeira, por certo contribuiu para alimentar incertezas já presentes na economia, mas não é demais lembrar dois aspectos. A crise não se encerrou e o governo não pode se considerar apenas uma vítima, já que o escândalo se originou de suas próprias hostes.
No que tange ao IBGE, a equipe econômica alega que a metodologia por ele empregada seria a responsável pela apuração de um recuo meramente estatístico -e não real- da atividade produtiva. Seria, conforme o argumento oficial, apenas um "ponto fora da curva" numa trajetória de crescimento contínuo.
É comum, embora sempre condenável, que governos descartem com argumentos casuísticos e meramente retóricos as críticas a resultados econômicos adversos. No caso específico do PIB no trimestre passado, é até possível que dificuldades metodológicas tenham acarretado a apuração de um resultado bem pior do que esperavam os analistas.
Mas o fato é que nenhum observador projetava um resultado efetivamente bom. Esperava-se que o IBGE apontasse uma queda de 0,5% ou uma estagnação do PIB, o que já bastaria para caracterizar um desempenho ruim da economia.
Este é o ponto a enfatizar: não é essencial se o "termômetro" utilizado para aferir o ritmo da atividade econômica tenha eventualmente acusado um desempenho em algum grau pior do que o efetivo. A percepção geral, que já antecedia a divulgação dos números, é de que a performance do país é pífia e destoa de modo marcante do padrão internacional.
Dito de outra maneira: numa conjuntura em que a economia global cresce vigorosamente e os demais países emergentes tiram grande proveito dessa realidade, o Brasil continua a ficar para trás. O verdadeiro ponto fora da curva é o fraquíssimo desempenho do Brasil num contexto global de grande dinamismo.
A esta altura, não pode restar dúvida da contribuição da política econômica para esse quadro. Dois pontos, em particular, já há algum tempo saltam aos olhos como anomalias brasileiras: o nível da taxa de juros -exorbitantemente alto, muito acima do observado em outras economias emergentes- e a velocidade da valorização da moeda, bastante superior à verificada nos países comparáveis ao Brasil.
Com juros e câmbio tão destoantes do padrão internacional, tão "fora da curva", seria surpreendente se o ritmo de crescimento da economia brasileira não estivesse se distanciando, em direção desfavorável, do global. É essa a realidade, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tente tapar o sol com a peneira, dizendo que não se devem fazer comparações com outros países. O que, aliás, é facílimo de entender: o cotejo com o que acontece no mundo só ressalta a mediocridade de seu próprio governo.

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