Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 03, 2005

Editorial da Folha de S Paulo

CRISE NA VENEZUELA
Sob a justa alegação de que o sistema de votação favorece o governo, três partidos de oposição desistiram de participar das eleições parlamentares na Venezuela, marcadas para amanhã. A retirada deve permitir que o partido do presidente Hugo Chávez adquira controle ainda mais férreo sobre o Congresso.
A decisão tem como objetivo evidenciar a falta de legitimidade do processo eleitoral. Os partidos desistentes -entre os quais a Ação Democrática e o Copei, que governaram o país por 40 anos- reivindicam a suspensão do pleito. Eles acusam o Conselho Nacional Eleitoral de manipulação e de pôr em risco a democracia venezuelana.
É conhecido o caráter autocrático da administração chavista, que vem torcendo as instituições a seu favor. Mas a desistência não é eficaz como estratégia para se contrapor a esses movimentos -e dá a impressão de ser motivada antes pelo mau desempenho nas pesquisas do que por protesto contra fraudes.
A saída dos principais oponentes será, de fato, uma benção para o caudilho. Atualmente, a base governista detém pouco mais de metade dos 167 assentos do parlamento. Na ausência dos concorrentes, deve passar a ocupar cerca de 80%, o que dará a Chávez cacife político para aprovar o que bem entender.
À frente nos últimos seis anos de um processo político personalista e centralizador, o mandatário venezuelano já adotou diversas medidas autoritárias. Aumentou o arbítrio do Estado sobre a imprensa e empresas e impôs restrições inaceitáveis ao Judiciário. Fortalecido, se sentirá mais estimulado a seguir nessa direção.
Com a retirada do pleito, a oposição só contribui para piorar o quadro institucional. Confusa, ela mostrou-se incapaz de se articular depois da derrota no referendo do ano passado e, a exemplo de Chávez, revela dificuldades em fazer política respeitando as regras e ritos democráticos.

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