José Dirceu volta à planície alimentando o mito que criou no Planalto A Câmara dos Deputados cassou o mandato de José Dirceu baseada nas evidências, compartilhadas pelo colegiado durante longo período, de que a base parlamentar de apoio do governo foi montada a partir de forte influência do Executivo a poder de instrumentos disponíveis apenas a quem está no comando da máquina do Estado. Objetivamente foi isso, embora seja muito mais nobre disseminar a versão da perseguição ideológica ao grande líder político da geração que liderou o combate à ditadura, a luta pela redemocratização, a construção do PT e a trajetória do líder operário do sindicato à Presidência da República. Muitos, inclusive no PT, tiveram papel tão ou mais importante na política nacional, professam teses contrárias às forças civis que há décadas se alternam no poder, vários deles ainda estão na ativa partidária e, nem por isso, são alvos da conspiração alegada por José Dirceu. Fato é que o deputado cassado no início da madrugada de ontem não teve, na história do País, a significância que atribui a si - seu relativo destaque na cena anteriormente à eleição do PT, diz sobre isso - nem deu ao presidente Luiz Inácio da Silva a contribuição de grande articulador político e gerente administrativo que rezou a lenda de eminência parda indispensável à sobrevivência do governo. Contribuiu fortemente, isto sim, para aquilo que acabou produzindo seu infortúnio: a montagem de uma base de apoio artificialmente ampla e sólida no Congresso, sob a égide da inflação de uns e deflação de outros partidos. Antes de voltar ontem à planície, José Dirceu viveu no planalto basicamente da mitologia. As vitórias iniciais no Parlamento não podem ser atribuídas à sua habilidade política. Foram fruto, de um lado, da cooptação fisiológica e, de outro, da força eleitoral de Lula. Junte-se a isso a adoção de reformas e políticas propostas pelo governo anterior, tivemos uma oposição inicialmente dócil e colaboracionista. Dirceu, ao contrário de organizar a área política, teve isto sim participação fundamental em sua desorganização, seja por atritos internos na base (recordemo-nos das motivações de Roberto Jefferson para explodir pontes e navios), seja por preferir relacionar-se com a oposição em bases provocativas. O PSDB, por exemplo, era majoritariamente parcimonioso nas críticas até José Dirceu partir para o ataque frontal assim que sentiu o arrefecimento político dos efeitos do escândalo Waldomiro Diniz. Quando saiu da coordenação política, assumiu a liderança da área administrativa com todas as honras de gerente tocador de projetos. Não produziu mais que discursos autolaudatórios, como a afirmação de ontem de que, se estivesse ele no comando, a crise política teria tido outro rumo. Morto politicamente ainda não se pode dizer que José Dirceu esteja. Ao longo do processo que culminou na cassação, vestiu o figurino do guerreiro empedernido de modo a possibilitar avaliações grandiloqüentes sobre sua capacidade de resistir às intempéries e, no desfecho, apresentou-se como candidato ao papel de referência nacional, dando lições de democracia e propondo-se a "repensar o Brasil". José Dirceu impressiona, de fato. Principalmente a quem se deixa impressionar. Conviria, porém, antes de chegar a conclusões definitivas sobre o futuro, lembrar que saiu da Casa Civil igualmente rodeado de homenagens e avaliações (induzidas) segundo as quais seria um pólo de poder político dentro da Câmara para reestabilizar o PT e "ajudar o presidente Lula a governar". Na volta, sequer conseguiu concluir o discurso de reestréia. Foi contestado, em seguida repudiado, mais adiante acusado e, por fim, expelido do convívio daqueles a quem tinha tratado como mercadoria de segunda em sua presunção do que seria o exercício do poder. Estava equivocado quanto à percepção sobre sua importância na ordem das coisas. Como agora também talvez não esteja de posse da melhor avaliação do quadro quando anuncia recolhimento temporário em lugar secreto para "poder ter sossego e trabalhar" longe do assédio que, imagina, continuará sendo intenso e duradouro. Segue o baile A cassação de José Dirceu não serve de lenitivo à crise, embora com ela se permita que as coisas sigam seu curso natural em terreno menos acidentado. Na avaliação de governistas e oposicionistas, um eventual resultado de absolvição seria politicamente muito mais negativo para o presidente Lula - "terá dois problemas no colo, o PIB e Dirceu", dizia um ex-ministro - e para o processo de apurações e investigações iniciado em maio. Despacho Discretamente, o vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô, arquivou terça-feira pedido de impeachment apresentado por um cidadão comum sob a alegação de que o presidente da República teria cometido abuso do poder econômico ao pôr o governo a serviço da eleição de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara. Aldo pediu a Nonô que decidisse o que fazer. Nonô engavetou e mandará, segunda-feira próxima, o ato ao presidente Lula, acompanhado de uma carta pessoal, cujos termos ainda não estavam definidos até ontem.
| |
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, dezembro 02, 2005
DORA KRAMER Amargo regresso
OESP
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
dezembro
(535)
- Mariano Grondona Sobre el síndrome anárquico-autor...
- Vozes d’África REINALDO AZEVEDO
- Merval Pereira Estranha aliança
- FERNANDO GABEIRA Globalização e as sementes do equ...
- O que sobrou de 2005? GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES Perdas e danos em 2005
- CLÓVIS ROSSI Férias?
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- CELSO MING Mudou o foco
- Rodovias - a crise anunciada por Josef Barat*
- A saúde que faz mal à economia Robert Fitch
- Villas-Bôas Corrêa Do alto o governo não vê
- Merval Pereira Os números do impasse
- Celso Ming - Bom momento
- Não contem ao presidente LUIZ CARLOS MENDONÇA DE B...
- As limitações da política econômica FERNANDO FERRA...
- NELSON MOTTA Barbas de molho
- ELIANE CANTANHÊDE Emergência
- CLÓVIS ROSSI Emprego e embuste
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Não na frente...
- Wagner faz da Viúva militante- claudio humberto
- Sharon, o homem do ano Por Reinaldo Azevedo
- Brasil - Idéias para tirar o Estado do buraco
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Negócio da China? PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
- JANIO DE FREITAS Votar para quê?
- DEMÉTRIO MAGNOLI O fator BIC
- MARTA SALOMON Quem tem medo do caixa um?
- CLÓVIS ROSSI O risco-empulhação
- Editorial da Folha de S Paulo
- CELSO MING A âncora da economia
- Editorial de O GLOBO
- Merval Pereira Soy loco por ti, América
- Tiro no pé abriu o 'annus horribilis' Augusto Nunes
- Sem perder a pose - Blog do Noblat
- Zuenir Ventura Louvado seja o Pan
- Editorial de O GLOBO
- ALI KAMEL Feliz ano novo
- Merval Pereira A turma do mensalão
- ELIO GASPARI O Ano da Pizza começou no Ceará
- Ação brasileira gera importante avanço JOSEPH E. S...
- FERNANDO RODRIGUES Legado do "mensalão"
- CLÓVIS ROSSI A empulhação, em números
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo PÉSSIMA IMAGEM
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Faltou o espetáculo Celso Ming
- O Banco Central e o paradoxo do dólar Sonia Racy
- Augusto Nunes - Essa candidatura parece provoção -
- Cuecão de ouro: absolvição cara - Claudio Humberto...
- Distorções Celso Ming
- Feliz ano novo ALI KAMEL
- RUBENS BARBOSA Crise de identidade
- ARNALDO JABOR Só nos restam as maldições
- Merval Pereira Símbolos e realidade
- O procurador procura toga AUGUSTO NUNES
- Sinais alarmantes ROBERTO BUSATO
- CLÓVIS ROSSI PT x PSDB, perde o Brasil
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Lula tentou abafar investigações, diz presidente d...
- FERNANDO RODRIGUES Ingenuidade ou farsa
- VINICIUS TORRES FREIRE Ano novo, vida velha
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Carlos Alberto Sardenberg A culpa é do governo
- dívida externa e risco Brasil
- AUGUSTO NUNES Nunca se viu nada parecido
- FERREIRA GULLAR Um Natal diferente
- LUÍS NASSIF O "príncipe" dos jornalistas
- História de Natal RUBENS RICUPERO
- Força de Lula deve definir candidato do PSDB
- ELIO GASPARI Um novo estilo: o minto-logo-desminto
- ELIANE CANTANHÊDE Enquanto março não vem
- CLÓVIS ROSSI O sinal e o bocejo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Desigualdade e transferência de renda
- Pobres se distanciam de ricos e dependem mais do g...
- Daniel Piza História da ilusão
- João Ubaldo Ribeiro A qualidade de vida ataca nova...
- CELSO MING De três em três
- Governo amplia Bolsa Família, mas não ajuda benefi...
- VEJA Mensalão:Marcos Valério processa o PT
- VEJA Eduardo Giannetti da Fonseca O fim do ciclo d...
- VEJA Tales Alvarenga O nosso Muro de Berlim
- VEJA MILLÔR
- VEJA Diogo Mainardi Uma anta na minha mira
- Além do Fato: A polarização PT e PSDB Bolívar Lamo...
- 2006 não será 2002 GESNER OLIVEIRA
- FERNANDO RODRIGUES Visão de dentro da crise
- CLÓVIS ROSSI A confissão
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
-
▼
dezembro
(535)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA