FSP
A divulgação dos números sobre o crescimento da economia no terceiro trimestre deste ano provocou um intenso debate na sociedade brasileira. As manchetes dos principais órgãos de nossa imprensa usaram expressões fortes -a mais freqüente delas foi "desastre"- para descrever a decepção causada pelo recuo expressivo do PIB, o primeiro desde 2003.
Para os defensores da política econômica, a queda do PIB refletiu a conjugação de fatores pontuais, como o recuo da produção agrícola e a redução de estoques na indústria e no comércio, inclusive em razão da crise política. Por isso, a queda do PIB seria passageira, e a retomada do crescimento econômico já se daria a partir do próximo trimestre. Já para os críticos do ministro Palocci, não existe surpresa, e a queda do PIB foi o reflexo das políticas de juro e câmbio perseguidas pela equipe econômica. Apenas a intensidade da queda pode ser considerada inesperada, mas não a sua direção.
Minha posição crítica em relação à condução da política econômica atual é conhecida. Considero equivocada, na sua concepção e na sua operação, a política monetária conduzida pelo Banco Central. A decepção com o crescimento da economia só não ocorreu mais cedo por conta de um "boom" de crédito ao consumidor, que amorteceu os efeitos da política monetária do BC. Mas agora, com a demanda por financiamentos por parte dos consumidores voltando a seu leito normal, os juros começam a afetar o consumo.
Como posso afirmar isso? Apenas olhando com os olhos de Keynes para os números que estão presentes no relatório do IBGE. Quando se faz esse exercício, uma informação salta aos olhos do analista. A taxa de crescimento do consumo privado, que representa quase 60% da formação do PIB, vem se reduzindo sistematicamente desde o último trimestre de 2004. No período julho/setembro deste ano, ela chegou a apenas a 2,8% em relação ao mesmo período de 2004 e não há razão para esperar uma reversão desse quadro. O "boom" de crédito já passou, e a queda gradual dos juros ao longo dos próximos meses não tem força suficiente para estimular o consumo das pessoas. Além disso, o aumento do emprego tem perdido dinamismo nos últimos meses, inclusive com evidências de que parte da criação de vagas está sendo feita à custa de salários cadentes. Porém, mesmo que se estabilize a taxa de crescimento do consumo das famílias, ainda assim estaremos falando de um crescimento menor do que 3% ao ano.
Outro componente importante da demanda, a chamada formação bruta de capital fixo, que representa 21% do PIB, também vem apresentando taxas decrescentes de crescimento. Ela foi de 19,3% no terceiro trimestre de 2004, de 9,3% no quarto, de 2,3% no primeiro de 2005, de 4,0% no segundo e de -2,10% agora. Certamente esse crescimento negativo está associado à crise política e às incertezas sobre as eleições de 2006, que deverão permanecer por mais tempo entre nós. Também influenciaram esse comportamento a queda do consumo privado e a valorização do câmbio. Não me parece crível esperar por uma aceleração forte ao longo dos próximos trimestres.
O consumo do governo, que representa cerca de 20% do PIB, também vem crescendo a taxas reduzidas em razão da política de saldos fiscais primários expressivos. O crescimento médio em 2005 tem sido inferior a 2% e também não deve representar fonte expressiva de aceleração de crescimento em razão do limite imposto pela política de superávits primários expressivos.
Finalmente, o saldo entre exportações e importações, que impacta o PIB em algo como 4%, também tem espaço limitado no futuro próximo. O saldo comercial em 2006 deve ser 20% inferior ao desse ano, reduzindo os efeitos positivos sobre a economia.
Os dados do IBGE não me parecem um desastre, mas são muito ruins quando levamos em conta o momento de extraordinário dinamismo no resto do mundo. O crescimento em 2006 não deve ser muito superior a 3%, muito pouco para dar suporte ao discurso oficial de um bravo mundo novo "neste país" a partir de 2003.
Entrevista:O Estado inteligente
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