Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 02, 2005

BARBARA GANCIA Pizza e polenta e olhe lá!

FSP
 Há pouco mais de um mês, comentei neste espaço a cidadania italiana obtida pela primeira-dama, dona Marisa Letícia Lula da Silva. Desde então, não paro de receber e-mails indignados de descendentes italianos que estão há anos (literalmente) na fila tentando sem sucesso conseguir o passaporte.
Uma reportagem publicada na última quarta no jornal italiano "Corriere della Sera" revela que o passaporte obtido por dona Marisa não irritou apenas os "oriundi" que acreditam que a mulher do presidente tenha furado a fila dos candidatos à cidadania.
Massimo D'Alema, ex-primeiro-ministro italiano e atual presidente do Partido Democrático da Esquerda, também vociferou contra o direito adquirido pela primeira-dama. Relatou ao jornal que, em recente visita a Lula em Brasília, dona Marisa teria perguntado a ele sobre um "estranho documento" que lhe fora enviado pelo consulado. D'Alema percebeu que dona Marisa nem sequer fala italiano. E deduziu que o documento em questão era a cédula eleitoral para votar no referendo pela utilização das células-tronco.
Segundo o ""Corriere", dona Marisa reagiu com surpresa quando foi informada de que, junto com a cidadania italiana, ganhara direito ao voto. A mulher do presidente afirma que só pediu a cidadania por insistência dos filhos e que nunca fez questão do passaporte. "Ninguém de nós quer ir embora do Brasil", diz ela. "É só uma oportunidade para os meninos."
D'Alema não questiona a oportunidade, mas a conversa com dona Marisa em Brasília chamou sua atenção para outro problema. O ex-primeiro-ministro declarou que gostaria de ver os direitos dos descendentes italianos estendidos aos imigrantes estrangeiros que vivem na Itália. "Por que dona Marisa pode votar, enquanto a babá dos meus filhos, uma imigrante que ajudou a criar as crianças e que paga impostos na Itália, não tem esse direito?", pergunta ele.
O ""Corriere" atesta que a ascendência italiana de dona Marisa "é um tanto remota" e trata sua "italianidade" com ironia, dizendo que a primeira-dama não conhece a língua de Dante. "No nosso idioma, ela só sabe dizer pizza e polenta", afirma a reportagem assinada, do Rio de Janeiro, por Rocco Cotroneo.
Pois, não me importo se dona Marisa nunca ouviu falar em Michelangelo ou Sophia Loren. O que eu quero saber é que oportunidade é essa que os filhos de Lula vêem na Itália. Será que, como nós, eles também estão fartos de viver num país que só escorrega na lama?

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