Entrevista:O Estado inteligente

sábado, dezembro 03, 2005

CELSO MING Chuva, sol e adubo

OESP

  Colaborou Danielle Chaves

A notícia da queda da produção nacional (PIB) no terceiro trimestre, de 1,2% sobre o trimestre anterior, provocou o terremoto já conhecido. O que mais pesou nesse desastre foi o mau resultado da produção da agropecuária: queda de 3,4%.

Mas há uma boa surpresa no setor. As vendas físicas de fertilizantes aos agricultores deverão fechar o ano com aumento de 4,4% e não com queda de 17,7%, como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vinha anunciando para o período janeiro a setembro. A informação é de Daniel Dias, analista de Mercado da FNP Consultoria.

Como não há notícia de clima ruim no Centro-Sul, a novidade parece indicar que as safras dessa temporada poderão ser melhores do que o esperado.

Isso ainda não consola ninguém, porque algumas variáveis estão fora do controle. Os preços internacionais das commodities, por exemplo, conjugados com a queda do dólar no câmbio interno, continuam sendo a causa da aflição do exportador.

Os primeiros levantamentos sobre a expectativa da safra 2005/06 confirmam que a área plantada diminuiu em relação à safra passada. Deve ser de 46,6 milhões de hectares, uma redução de 5,7% a 3,4% em relação à safra 2004/05. Números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vão na mesma direção: a área plantada deve cair 4,5%.

Ainda sem contar com os novos números sobre a utilização de fertilizantes acima apontados, a Conab estimava há quatro semanas que a produção da próxima safra ficará entre 121,5 milhões e 124,8 milhões de toneladas de grãos, ou cerca de 10% maior do que os 113,5 milhões de toneladas da safra anterior.

Os dados do IBGE são mais otimistas e prevêem produção total de 126,6 milhões de toneladas de grãos. Essas informações nos chegam com a precariedade habitual porque a safra de verão no Centro-Sul só vai terminar em março ou abril e, até lá, não se saberá como terão se comportado as chuvas.

Além disso, esperar por uma produção melhor não aponta para nenhum gol de letra porque está sendo comparada com o resultado decepcionante de 2004/05, quando a estiagem derrubou a produção - como observa Amarylles Romano, da Tendências Consultoria.

O relativo otimismo transmitido por essas informações deve ser visto no seu devido contexto. A safra 2002/03 havia produzido 123,2 milhões de toneladas de grãos. Se os bons resultados deste ano se confirmarem, apenas estará sendo mantido o patamar alcançado há dois anos.

Do ponto de vista de ganhos de produtividade, estamos andando para trás: 2,8 toneladas por hectare em 2002/03, em comparação com as 2,6 toneladas por hectare previstas para a safra que vem vindo aí.

O aumento da produção na próxima safra é calculado com base em um clima favorável ao longo dos próximos três ou quatro meses. Ocorre que ninguém pode garantir tempo bom. "Nada como dez dias de muito sol ou dez dias de muita chuva para produzir um estrago grande na plantação", lembra Daniel Dias.

Outra notícia favorável é a de que, se for confirmado esse aumento da produção, a renda agrícola também crescerá. Amarylles acredita em salto de renda de até 14%, em comparação com a queda de 17,4% na safra 2004/05.

Não dá para desconsiderar o problemão da aftosa. Foi o grande golpe sofrido pela pecuária neste ano que, no entanto, deverá ter sido resolvido em 2006.

Como nada é perfeito, as previsões sobre a gripe aviária não são animadoras. Ela não chegou ainda ao Brasil, mas se espalha rapidamente por toda parte. Além disso, se a avicultura continuar sendo derrubada em todo o mundo, a produção de rações (e, portanto, o consumo de milho e soja) ficará sujeita a trancos de intensidade variável. É preciso perguntar, também, até quando o consumidor mundial deixará de consumir carne de aves, como observam Daniel Dias e o coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), ligado à Esalq, Geraldo Sant'Ana Barros.

Enfim, os horizontes para o ano agrícola 2005/06 são melhores do que ficou para trás em 2004/05. Mas os produtores têm de se preparar para enfrentar as novas dificuldades.


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