O Banco Central subiu os juros para 11,75% na segunda reunião do governo Dilma. O quadro econômico ficou mais confuso com os dados divulgados ontem: a produção industrial ficou estável, quando se esperava queda, e a venda de carros disparou. A conta do excesso de gastos e de estímulos fiscais numa economia que já estava em alta em 2010 chegou agora.
Quem olha os detalhes da conjuntura acha que a elevação faz sentido. Quem vê o quadro geral e olha para outros países tem noção de que os juros brasileiros são uma anomalia.
O BC não tinha outra saída. Há uma inflação generalizada. Em economia, não existe almoço grátis e as medidas de combate à crise adotadas pelo Ministério da Fazenda em 2009 passaram do ponto, foram mantidas em 2010, ano que já era de recuperação. Os gastos deveriam ter sido contidos e os estímulos eliminados antes. O IBGE divulgará hoje o PIB em torno de 7,5% de 2010.
Há razões internacionais para a alta da inflação, mas isso não explica tudo, porque ela está disseminada. Houve um aquecimento muito forte do consumo, tanto das famílias quanto do governo. Com menos gastos públicos, o governo abriria espaço para o consumo privado.
O BC tomou medidas para reduzir a oferta de crédito, achando que as vendas de bens de maior valor seriam reduzidas. Mas foi espantoso o número divulgado ontem pela Fenabrave. Em fevereiro os brasileiros compraram 24% mais carros do que em fevereiro do ano passado, quando havia redução do IPI para compra de automóveis.
A maioria dos economistas previu queda na produção industrial de janeiro. O número ficou em 0,2%. O indicador foi puxado pela expansão de 6% dos bens duráveis. Segundo análise do banco HSBC, apesar das medidas do Banco Central que encareceram o crédito, o consumo está sendo sustentado pelo mercado de trabalho e pela renda das famílias.
Com o emprego em alta, as famílias se sentem mais seguras para assumir compromisso de longo prazo e para comprar itens financiados como geladeiras, fogões, televisores e automóveis. O Brasil, como se sabe, tem tido juros tão altos que tem uma deformação: o comprador pergunta não pelo custo do dinheiro, mas se as prestações cabem no bolso.
Mesmo assim, a indústria está com ritmo bem menor do que o comércio (veja no gráfico abaixo). A demanda tem sido cada vez mais atendida pela importação. O setor de bens intermediários teve queda de 0,4%. A MCM consultoria calcula que a alta da indústria no ano será de apenas 2%. O economista Newton Rosa, da Sul América Investimentos, também acha que os sinais são de desaceleração:
- Desde o 2º trimestre de 2010 a indústria está praticamente estagnada. Isso acontece tanto pelo aumento das importações, que tira venda dos produtos nacionais, e também pela queda das exportações, fruto do consumo externo mais fraco e do real mais forte.
O vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, tem números impressionantes de aumento da importação. O déficit comercial do setor em 2004 era de apenas US$400 milhões. Deve saltar para US$25 bilhões em 2011. A participação dos produtos chineses, que era de 2,1% no mesmo ano, agora é de 14,7%, acima da Alemanha.
- A verdade é que o Brasil não é competitivo em comparação com os concorrentes. Temos a maior taxa de juros, o câmbio valorizado, a mais alta carga tributária, infraestrutura deficiente. Isso em comparação com Alemanha, Suíça, Coreia do Sul, China e Índia - disse Velloso.
Mesmo assim, a previsão da Abimaq é de alta de 15% na produção este ano. Velloso explica que o setor tem um tipo de crescimento diferenciado dos demais. Quando a economia cresce, a venda de equipamentos dispara. Quando a economia se retrai, a produção desaba.
A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) teme uma queda da produção este ano, depois da alta de 4% em 2010. Além da concorrência dos importados, os preços internacionais do algodão dispararam, segundo o presidente da entidade, Aguinaldo Diniz.
- O preço do algodão subiu 200% em 12 meses. Isso aumentou demais a necessidade de capital de giro das empresas, que estão sendo obrigadas a reduzir produção e quadro de pessoal. A importação de produtos chineses subiu 34% em janeiro deste ano na comparação com 2010 - explicou.
Ricardo Trombini, presidente da ABPO (Associação Brasileira de Papelão Ondulado), acha que o setor cresce 5% em 2011, menos que os 12% de 2010. Ele lamenta que o Brasil combata a inflação apenas com taxas de juros.
O problema é o país ter vencido a superinflação há 16 anos e ainda precisar de juros tão astronômicos para controlar os preços. Não foi por falta de aviso: o governo gastou demais e a conta chegou quando vários outros fatores estão empurrando a inflação para cima.
FONTE: O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2011
(2527)
-
▼
março
(225)
- Combaten con las mismas armas Joaquín Morales Solá
- Joaquín Morales Solá Un país que camina hacia el a...
- Uma viagem útil :: Paulo Brossard
- CELSO MING Alargamento do horizonte
- DENIS LERRER ROSENFIELD Fraternidade e natureza
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Pouca infraestrutura e m...
- Con amigos como Moyano, ¿quién necesita enemigos? ...
- Otra crisis con la Corte Suprema Joaquín Morales Solá
- Gaudencio Torquato A democracia supletiva
- VINÍCIUS TORRES FREIREFutricas público-privadas VI...
- Um itaparicano em Paris JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Tão bela e tão bregaDANUZA LEÃOFOLHA DE SÃO PAULO ...
- Ferreira Gullar A espada de Damocles
- Miriam Leitão No mar,de novo
- Durou Caldas Poder autoritário
- Dora Kramer Itamaraty, o retorno
- Nerval Pereira Desafios na gestão
- JAMES M. ACTON Energia nuclear vale o risco
- GUILHERME FIUZA Obama e o carnaval
- Boris Fauto Século das novas luzes
- Fernando de Barros e Silva Yes, we créu!
- Ricardo Noblat Ó pai, ó!
- Luiz Carlos Mendonça de Barros A presidente Dilma ...
- Fabio Giambiagi O mínimo não é mínimo
- José Goldemberg O acidente nuclear do Japão
- Carlos Alberto Di Franco Imprensa e política
- PAULO RABELLO DE CASTRO Sobre os demônios que nos ...
- MAÍLSON DA NÓBREGA Tributos: menor independencia o...
- RUTH DE AQUINO Militantes, “go home”
- CELSO LAFER A ''Oração aos Moços'', de Rui Barbosa...
- YOANI SÁNCHEZ Letras góticas na parede
- MÍRIAM LEITÃO Afirmação e fato
- CELSO MING Perigo no rótulo
- ETHEVALDO SIQUEIRA A segurança está em você
- JIM O'NEILL O Japão e o iene
- VINICIUS TORRES FREIRE Chiclete com Obama
- SUELY CALDAS A antirreforma de Dilma
- FERREIRA GULLAR O trinado do passarinho
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Vivendo de brisa
- DANUZA LEÃO Pode ser muito bom
- MARCELO GLEISER Conversa Sobre a Fé e a Ciência
- Riodan Roett: ''O estilo Lula foi um momento, e já...
- Dora Kramer Conselho de Segurança
- Merval Pereira O sexto membro
- Rubens Ricupero Decepção na estréia
- VINICIUS TORRES FREIRE Dilma está uma arara
- Míriam Leitão Cenários desfeitos
- Merval Pereira O Brasil e a ONU
- Guilherme Fiuza O negro, a mulher e o circo
- ENTREVISTA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
- Nelson Motta -O tango do absurdo
- Míriam LeitãoAntes e depois
- Fernando de Barros e Silva Inflação na cabeça
- Merval Pereira Modelo aprovado?
- Roberto Freire Todo cuidado é pouco
- Celso Ming Não à inflação
- Dora Kramer Boa vizinhança
- Fernando Gabeira Obama no Brasil
- Rogério Furquim Werneck Instrumentos adulterados
- Energia - a chance de discutir sem soberba- Washin...
- Míriam Leitão Sol levante
- Merval Pereira A janela de Kassab
- Dora Kramer Pela tangente
- Celso Ming -Mudar o paradigma?
- Alberto Tamer Japão tem reservas anticrise
- Roberto Macedo Um filme ruim só no título
- Adriano Pires O monopólio da Petrobrás no setor el...
- Eugênia Lopes Jetom de estatais faz ministros esto...
- Carlos Alberto Sardenberg Eles vão sair dessa!
- Demétrio Magnoli A maldição do pré-sal
- Fábio Giambiagi A lógica do absurdo
- O presunçoso gerente de apagões veste a fantasia d...
- VINICIUS TORRES FREIRE Síndrome do pânico e do Japão
- Yoshiaki Nakano Para aprimorar o sistema de metas
- Merval Pereira Acordo no pré-sal
- Celso Ming Mais incertezas
- Dora Kramer Inversão de culpa
- Paul Krugman Fusão macroeconômica
- Rolf Kuntz Emprego, salário e consumo
- José Nêumanne A caixa-preta da Operação Satiagraha
- Vinícius Torres Freire-A importância de ser prudente
- Míriam Leitão-Efeito Japão
- Raymundo Costa-A força do mensalão no governo Dilma
- Fernando de Barros e Silva -Liberais de fachada
- Merval Pereira Começar de novo
- Celso Ming - Risco nuclear
- Dora Kramer Em petição de miséria
- José Serra Cuidado com a contrarreforma
- José Pastore A real prioridade na terceirização
- J. R. Guzzo Beleza e desastre
- Paulo Brossard Orçamento clandestino
- Marco Antonio Rocha Só indiretamente dá para perce...
- DENIS LERRER ROSENFIELD Falsas clivagens
- GUSTAVO CERBASI O melhor pode sair caro
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG Tolerância com a inflação
- Os EUA podem entrar arregaçando na Líbia? O mundo ...
- Fúrias e tsunamis - Alberto Dines
- BARRY EICHENGREEN A próxima crise financeira
- VINICIUS TORRES FREIRE Economia, o império do efêmero
- GAUDÊNCIO TORQUATO Maria-Fumaça e a 7ª economia
-
▼
março
(225)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA