NOVA YORK. O presidente eleito Barack Obama deve participar do jantar de encerramento da reunião do G-20 no próximo sábado, convocado pelo presidente George Bush para discutir a crise internacional. Essa reunião está sendo considerada pelo governo brasileiro como o primeiro passo para a ampliação do grupo decisório internacional que hoje é restrito ao G-8, formado pelos países desenvolvidos — Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá — e mais a Rússia. Do grupo de nações emergentes convidadas para a reunião, formado por Brasil, Arábia Saudita, África do Sul, Argentina, Austrália, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, México e Turquia, sairão os novos integrantes do fórum internacional ampliado que a crise econômica que assola o mundo está tornando inevitável.
Um passo também considerado mais provável hoje do que antes é a reformulação dos organismos multilaterais, como o FMI, o Banco Mundial e até mesmo o Conselho de Segurança da ONU.
O Brasil, que já contava com uma maior aceitação por parte do atual governo dos Estados Unidos para sua pretensão de ter um assento permanente no Conselho, terá que testar a tendência do futuro governo de Barack Obama.
Pelo menos em princípio, a futura administração será mais favorável à ampliação desses organismos internacionais, dentro de uma ótica multipolar que, na prática, já se impõe com a nova realidade de uma crise nascida dentro dos Estados Unidos e que se espalhou pelo mundo.
As questões diplomáticas mais delicadas, como a divisão geopolítica de poder, podem ter uma solução facilitada diante da necessidade de se obter avanços concretos em curto espaço de tempo.
O grupo formado por Brasil, Alemanha, Índia e Japão se coloca como a melhor alternativa de representatividade regional para o Conselho da ONU, acrescido do apoio dos países africanos, que teriam um representante na África do Sul.
Mas mesmo esse grupo é objeto de contestação de outros países: a China veta a entrada do Japão, o Paquistão não aceita a Índia, países europeus contestam a representatividade da Alemanha, o Egito quer ser o representante africano e, na própria região onde o Brasil é líder natural, Argentina e México não nos aceitam como representante automático.
Para reforçar a liderança regional de maneira inconteste, o Brasil precisaria, na ótica de observadores internacionais, impor-se na América do Sul, onde está sendo contestado cada vez mais por supostos aliados como Evo Morales, na Bolívia; Correa, no Equador; os Kirchner, na Argentina, e outros que tais, todos submetidos à influência ideológica e financeira de Hugo Chávez, da Venezuela.
O Brasil não estaria usando sua força política para controlar as tendências autoritárias desses líderes. Embora a diplomacia brasileira se recuse a aceitar esse tipo de crítica, há indicações de que setores da diplomacia americana entendem que Lula, defendendo a tese de que só se mantendo próximo pode negociar com esses países, na verdade está mesmo é cercado por governos autoritários, sem conseguir controlar a situação.
Evo Morales e Chávez, que estimulam o confronto permanente, inclusive com os Estados Unidos, seriam o contrário de Lula, conciliador e representante de uma esquerda moderna. O presidente eleito Barack Obama já definiu a Venezuela como um dos “estados bandidos”, juntamente com o Irã, e o Brasil vai precisar se posicionar se quiser exercer um papel de destaque na mediação da futura administração americana com a América do Sul.
Lula, por sua vez, comentou em sua recente visita a Cuba que Obama mostrará a que realmente veio de acordo com a atitude que tomar em relação ao embargo econômico à ilha. E não foi por acaso que exortou o futuro presidente americano a acabar com o bloqueio econômico ao país do ditador Fidel.
Por enquanto, a posição brasileira tem sido a de defender a tese de que a América do Sul, diferentemente de outros continentes como África e Ásia, só tem governos eleitos democraticamente, embora haja diferenças de tensão, e alguns países sejam mais polarizados politicamente que outros.
Com relação à Venezuela, a posição do governo brasileiro nas conversas diplomáticas tem sido a de atribuir a tensão à oposição, que tentou tirar Chávez do poder através de um golpe.
A abordagem diplomática brasileira chega a ressaltar que mesmo nos Estados Unidos, exemplo de democracia, houve uma situação tão polarizada politicamente no século XIX que culminou em uma guerra civil.
A exclusão das minorias dos benefícios do desenvolvimento, os indígenas no caso da Bolívia, e a classe trabalhadora no Brasil, é que fez com que surgissem na região esses governos populares, na ótica da diplomacia brasileira.
Mas temos na América do Sul mecanismos de diálogo que previnem os conflitos armados, e os presidentes da região têm a capacidade hoje de conversar pessoalmente, muitas vezes em reuniões marcadas de improviso, para resolver conflitos.
A futura política do governo Obama para a América Latina pode assumir uma faceta menos belicosa no combate ao narcotráfico e ao terrorismo na Colômbia e no México, segundo informações de analistas próximos à nova administração.
Substituindo as armas por incentivos econômicos para o desenvolvimento daqueles países, seria reduzida a tensão política na região.
Mas, ao assumir a tese de que a vitória de Obama tem o mesmo significado que a ascensão dos governos de esquerda na América Latina nos últimos anos, e, mais que isso, ao alimentar expectativas de que um governo de Obama terá tendências de esquerda, os governantes sul-americanos, inclusive Lula, podem estar cometendo um grave
Entrevista:O Estado inteligente
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