Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, novembro 30, 2008
CELSO MING Para onde vai o dolar
Se os fundamentos da economia estão bem, por que, afinal, houve tanta sangria de dólares e por que o real se desvalorizou tanto? Alguém aí consegue prever com um mínimo de segurança o que vai acontecer com a cotação do dólar nos próximos meses?
De maio até final de novembro, o real se desvalorizou 29% em relação ao dólar e 14% em relação ao euro. Para início de conversa, não é fácil separar o que nesse movimento são mazelas do real e o que são das outras moedas. A moeda do país mais encrencado, em princípio, teria de derreter. E, no entanto, está acontecendo o contrário; o dólar cavalga em relação a quase tudo o que antes era considerado mais sólido. Essa anomalia tem lá suas explicações, que ficarão para ser revisitadas em outra oportunidade.
A desvalorização do real em relação ao euro serve mais de parâmetro para avaliar o que está acontecendo do que a comparação com o dólar. E, para início de conversa, é descabido atribuir a perda relativa de força do real à deterioração dos fundamentos da economia brasileira, que continuam mais ou menos os mesmos de quando a tendência do câmbio era a da valorização do real.
São três as principais razões da desvalorização da moeda brasileira. A primeira é a perda de receitas com exportações que acompanha o tombo das cotações das commodities. Na condição de importante fornecedor externo, o Brasil foi castigado.
A segunda razão foi o efeito “raspa tacho” provocado pelas matrizes das empresas estrangeiras no País. Faltou caixa lá fora e as filiais, num excelente momento, foram convocadas a socorrer as empresas mãe. Assim, a alta do dólar acabou fortemente influenciada por essas saídas de moeda estrangeira, que nada têm a ver com as fugas de dólares do passado - essas, sim, provocadas pela deterioração das condições da economia brasileira.
E o terceiro fator de desvalorização do real foi a ação dos fundos de hedge, que vêm sofrendo grandes saques e precisam fazer dinheiro com os ativos mais líquidos. Como não foi possível vender tantos ativos internacionais que passaram a ser classificados como “lixo tóxico”, viram-se ações e ativos brasileiros, bastante valorizados até então, serem liquidados na bacia das almas.
Muita coisa está para ser entendida, mas, independentemente das explicações que possam aparecer, a pergunta mais importante é saber para onde vai agora o dólar no câmbio nacional.
Os canais de crédito no exterior continuam entupidos. Banco não confia em banco, portanto não empresta para banco. Mas põe suas sobras no banco central, que é obrigado a repassar o dinheiro para aqueles com problemas de caixa. E, se banco não empresta para banco, o cliente, grande ou pequeno, continua sob estresse. Esse quadro mantém a pressão sobre o câmbio no País.
Para saber até onde vai o câmbio nos próximos meses, não basta avaliar corretamente de quanto será o rombo (déficit) em conta corrente (contas externas).
Este pode ser de 1% do PIB, de 2% ou maior do que isso. O mais importante consiste em saber quanto desse rombo o resto do mundo estará disposto a cobrir.
Isso só ficará mais claro nos próximos meses, provavelmente depois de 20 de janeiro, quando o país mais importante do planeta ficará sob novo comando.
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