Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 22, 2008

"Sem bolha nem recessão"

Veja

Apesar da deterioração da economia mundial, Mantega diz que
o Brasil vai sofrer menos porque tem "gordura" para queimar


Benedito Sverberi

Anderson Schneider
SEM EXCESSOS Mantega: o Brasil terá crescimento mais moderado

De seu gabinete, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, monitora a propagação dos choques do terremoto financeiro internacional. Dos vários problemas que enxerga no Brasil – e não são poucos –, nenhum é suficientemente grave para abalar-lhe o otimismo. "Aqui, não existem bolhas", afirma. "Ocorrerá apenas uma desaceleração no ritmo de elevação da renda e do emprego. Vai haver algum ajuste na economia, mas o consumo continuará num patamar satisfatório." Abaixo, a avaliação de Mantega sobre os setores mais vitais da economia.

AGRICULTURA

Não há uma bolha agrícola prestes a estourar. O que houve foi uma escassez momentânea de crédito. Parte das tradings que financiavam a produção saiu do mercado. Tivemos de compensar sua ausência como fonte de financiamento, e o fizemos com o direcionamento de crédito compulsório para a agricultura. Também aumentamos o desembolso do Banco do Brasil e reestruturamos as dívidas agrícolas. Toda a safra 2008/2009 foi plantada e será colhida com êxito. A redução dessa safra em relação à de 2007/2008 será pequena, em torno de 2% a 3%. As exportações agrícolas vão se manter em um bom patamar porque os preços ainda estão altos. Além disso, a desvalorização do real dá um ganho extra ao exportador. O preço da soja cai, mas ele recebe, em reais, um valor igual ou até maior. Os problemas agrícolas são localizados. Não se deve fazer tempestade em copo d'água.

INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA

As vendas de carros estavam num patamar muito alto. Temos gordura para reduzi-las e ainda estacionar em um nível elevado. Essa é a vantagem do Brasil em relação a outras economias. Nos Estados Unidos e na Europa, as vendas cresciam 2% ou 3% por ano. São economias já estabelecidas, com dinamismo baixo. Mas, no Brasil, havia taxas de crescimento de 12%, 13%, 14% na venda de carros. É possível reduzi-las e, ainda assim, manter um ritmo de expansão alto. A venda de veículos apenas desacelerou. Ela cresce menos do que antes. Esse é o ângulo certo. Além disso, o governo não está inerte. Quando percebemos a falta de crédito para o setor automobilístico, agimos prontamente. Já disponibilizamos 4 bilhões de reais para bancos e financeiras de montadoras. Ainda reduzimos o IOF para motos.

CONSTRUÇÃO CIVIL

O setor crescia 10% ao ano. Se crescer 5%, ainda será um bom resultado. Podemos olhar pelos dois ângulos. O setor está reduzindo em 50% seu ritmo de crescimento, mas essa informação não é inteiramente correta. O certo é dizer que, em vez de crescer 10%, o PIB da construção civil vai aumentar 5% ou 6%. Essa crise financeira reduziu drasticamente o crédito nessa área, é verdade. Mas estamos atuando fortemente para repor o financiamento imobiliário. Há outras medidas, mais gerais. Postergamos o pagamento de tributos, o que permitiu aos empresários manter o capital de giro por mais tempo nas mãos. O governo tomará todas as medidas que forem necessárias para abastecer o crédito imobiliário.

VAREJO

O mercado interno brasileiro crescia a taxas muito altas até setembro, em um patamar até exagerado. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE estava sinalizando uma expansão das vendas de 14% sobre o ano anterior. O setor passará agora por uma desaceleração. Deverá crescer 7%, 8%, 9% em relação a 2007. Trata-se de uma taxa de consumo suficiente para manter a atividade econômica em movimento. Uma parcela dessa recente redução na demanda resulta da perda de confiança do consumidor. Foi uma reação inicial a essa fase aguda da crise, que, a meu ver, já passou. A situação é preocupante lá fora. Aqui, no Brasil, não há motivo para temor. Ocorrerá apenas uma desaceleração no ritmo de elevação da renda e do emprego. Vai haver algum ajuste na economia, mas o consumo continuará num patamar satisfatório.

SETOR FINANCEIRO

O governo está atento ao mercado de crédito e tem agido para que ele não fique desprovido de liquidez. Já liberamos mais de 70 bilhões de reais do compulsório, por exemplo. É também verdade que o crédito estava crescendo de forma exagerada: 34% ao ano. A expectativa é de uma expansão menor, mas ainda assim bastante satisfatória. Nosso sistema financeiro é um dos mais sólidos do mundo. Comparado ao de outros países, é menos alavancado, mais capitalizado e não esteve envolvido em operações de subprime. É claro que, quando houve um travamento do crédito mundial, nós também fomos afetados. Mas o governo agiu rápido para prover recursos. Os bancos ficaram, de fato, mais cautelosos, com receio de uma queda no nível de atividade. Hoje, com a paulatina melhora do ambiente econômico, a expectativa é que voltarão a dar mais crédito.

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