28.11.2008
| 9h30m
Na CBN
Dois pontos cruciais da operação Caixa Petrobras
Existem dois pontos cruciais nesta operação de empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa para a Petrobras. O primeiro é que a principal função da Caixa não é financiar grandes empresas. O segundo é que a Petrobras se beneficiou de seu status de estatal para conseguir financiamento público com taxas mais baratas que a do resto do mercado.
A Caixa Econômica é a principal financiadora da construção civil do país, e esse papel deve ser reforçado num momento em que o crédito está mais caro em todo o mundo por conta da crise financeira. Essa é a função que ela deve continuar exercendo e não passar a ser um banco de emergência das estatais brasileiras. Além disso, o empréstimo concedido à Petrobras é grande demais para os padrões da Caixa. São R$ 2 bilhões a uma única empresa. Isso significa que houve favorecimento a uma empresa grande demais, e estatal, por parte de um banco também estatal especializado a emprestar a pequenas e médias empresas.
Pelo lado da Petrobras, sendo ela a maior empresa do país, tem plena capacidade de captação aqui e no exterior. A crise de crédito lá fora está grave, mas isso não serve de justificativa para que a Petrobras possa ir pelo caminho mais fácil de tomar recursos no próprio setor público brasileiro. Dessa forma, as estatais acabarão monopolizando os recursos disponíveis nos bancos públicos justamente num momento em que há escassez de crédito no mercado.
Além disso, a competiação é desleal. Imagine uma empresa do mesmo tamanho da Petrobras, mas sendo privada, pedindo R$ 2 bilhões para capital de giro a Caixa. Será que ela conseguirá? Entrando desse jeito, a Petrobras desequilibra o mercado de crédito no Brasil. Se fosse captar competindo com outras empresas, tudo bem. Mas não foi isso que aconteceu.
Fora isso tudo, foi dado ao mercado mais um sinal de que há algo estranho nas contas da Petrobras. Na última semana, quando a empresa divulgou lucro recorde no 3º trimestre, lembram o que aconteceu no dia seguinte? As ações da empresa despencaram 13% porque os investidores analisaram o balanço e perceberam muitos gastos desnecessários.
Essa operação de empréstimo da Caixa é estranha e ruim. Reforça a idéia de que há falta de planejamento financeiro na Petrobras. E em tempos de crise é assim, tudo é visto com lupa. Não é hora para se criar tantos ruídos desnecessários.
Ouçam aqui a análise na CBN.