Jornal do Brasil - 26/11/2008 |
A foto com a pretensão de panorâmica da última reunião ministerial do ano, no salão nobre do Palácio do Planalto não conseguiu enquadrar a mesa com 36 dos 37 ministros e os híbridos de ministros-secretário do maior ministério de todos os tempos. Mas os que não tiveram espaço para aparecer na foto não perderam mais do que se tivessem sido dispensados de uma promoção escancaradamente publicitária para avisar à equipe que deve estar preparada para a campanha que vai ser lançada oficialmente nas redes de TV, no rádio, jornais, revistas e pela internet para comover a população e convencer a sociedade que não há nenhum motivo parta se deixar envolver pelo pânico e nem deixar de consumir. O governo, portanto, como estamos oficialmente informados, nada de braçada nas águas serenas do otimismo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, como orador oficial, revelou as novidades que vinham sendo escondidas para não furar a mensagem presidencial. Como o nariz apontando para o céu, num gesto muito seu, o ministro da Fazenda recitou a fala que acabou decorando: temos uma agricultura como um dos maiores índices de produtividade do mundo. Sem perder o embalo e sempre falando para o mundo, lembrou que a nossa indústria é diversificada e de eficiência de embasbacar o resto do mundo. Ainda não acabou de expor as maravilhas do país da Alice: "Agora temos um câmbio favorável para a exportação. O cenário não é tão ruim como pintam. Poder ser até um cenário bastante razoável". Com a ressalva não concordou o presidente Lula que não perdeu a oportunidade de no novo discurso, à noite, colocar a euforia oficial no seu patamar: "O mundo está vendo a crise internacional pela TV durante o dia inteiro. E está percebendo que o Brasil é o país mais seguro e mais preparado para enfrentar a crise". Mas, o governo acordou ontem para se defrontar com a realidade que comove o país da calamidade que castiga Santa Catarina e assume as dimensões catastróficas pela imensidão da área coberta pela água que cai do céu há mais de 40 dias, desalojando famílias de suas casas, derrubando barreiras que arrastam residências equilibradas à beira do precipício e destruindo o que muitos levam a vida para conseguir. A cobertura direta pelas emissoras de televisão, as reportagens e fotos nos jornais tocaram no nervo da solidariedade nacional. E a mobilização juntou estados, cidades, gente. O presidente Lula mobilizou o governo e recuperou a liderança das ações de emergência enviando ministros das pastas mais ligadas ao socorro. E mais helicópteros, aviões, militares adestrados ao atendimento de vítimas que clamam pela salvação da família. Os 53 mil desabrigados das estimativas das autoridades, mesmo os que perderam tudo e não sabem para onde ir, já não se sentem sozinhos. A corrente da solidariedade, com o apoio de vários estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul é o outro lado do drama que aquece a alma nacional. O governo está fazendo o que pode. Mas, numa hora como esta, além do governo, a presença do presidente da República não é apenas confortadora para as vítimas que se emocionam com a solidária mobilização da máquina administrativa, com a liberação de verbas para atender as obras de prioridade aflitiva e a renascida esperança da ainda distante retomada da rotina da vida partida. Repita-se: nestas horas, a presença do presidente da República é insubstituível. Se não faz milagre, leva à população a palavra de solidariedade, de conforto aos que perderam tudo e pedem tão pouco. |
Entrevista:O Estado inteligente
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