Não há dúvida quanto a isso, embora políticos, economistas, empresários e trabalhadores cobrem do governo, desde já, algo mais que a salvação dos bancos e de outras instituições de crédito. Querem também socorro a grupos industriais e comerciais pressionados pela insegurança, pelo crédito escasso e pela retração dos consumidores. O desemprego cresce. Dezenas de lojas de varejo já foram fechadas e novos fechamentos deverão ocorrer em breve, porque as vendas de Natal serão fracas.
O presidente eleito promete ações audaciosas para levar a economia de volta ao crescimento. Algumas orientações básicas de seu plano são conhecidas. Programas de ajuda a setores industriais, como o automobilístico, deverão incluir condições especiais, como a adoção de tecnologias poupadoras de energia e compatíveis com a preservação ambiental. Também é conhecida uma das metas, a criação de 2,5 milhões de postos de trabalho até 2011.
O futuro secretário do Tesouro, Timothy Geithner, preside o Federal Reserve Bank (Fed) de Nova York desde novembro de 2003. Participou das negociações para a compra do quase quebrado Bear Stearns pelo J.P. Morgan Chase, em março. Atuou também noutros momentos da crise financeira, neste ano, sempre apoiando as intervenções consideradas necessárias à limitação dos danos. É respeitado no setor financeiro e conhecido por defender maiores poderes de regulação e de intervenção para o Fed.
Lawrence Summers, professor de Harvard, foi secretário-adjunto e depois secretário do Tesouro no segundo mandato do presidente Bill Clinton. Chefiará o Conselho Nacional de Economia, órgão do Gabinete Executivo da Presidência da República. O conselho coordena a formulação de políticas econômicas internas e externas, administra os programas de interesse presidencial e acompanha a execução da agenda econômica do governo.
Haverá com certeza novidades na concepção e na execução das ações econômicas, mas dificilmente haverá descontinuidade na passagem do atual governo para o seguinte. A linha básica de socorro ao setor financeiro e de estímulo à atividade econômica está traçada e será mantida, provavelmente, sem rupturas importantes nos primeiros tempos. Todos os compromissos econômicos assumidos pelo presidente Bush, nesta fase de crise, serão respeitados, prometeu Obama.
O futuro presidente será forçado a novas ações custosas, pelo menos no primeiro ano do mandato, para conduzir a economia à normalidade. No caso de uma depressão, hipótese não descartada por respeitados economistas, terá de recorrer a ações ainda mais audaciosas. Quando começar a recuperação, no entanto, as condições fiscais serão bem mais precárias que hoje. A dívida pública será muito maior, o ajuste orçamentário será penoso e o governo ainda terá de se desfazer de alguns ativos comprados na crise. Obama provavelmente não desejará manter o Tesouro americano como acionista de bancos privados. A intervenção no Citigroup, por exemplo, deve dar ao governo uma fatia de 7,8% da instituição, segundo o diretor-financeiro do banco, Gary Crittenden. Quando essas operações forem desmontadas será possível conhecer com exatidão o custo das intervenções. Neste momento, Bush não tem escolha, nem Obama terá em seu primeiro ano. Boa parte de sua agenda está dada.