NOVA YORK. Assim como a crise financeira atingiu dimensões planetárias, também ganharam as mesmas dimensões os programas de socorro aos países com problemas. Um grupo de 300 banqueiros, reunidos no Instituto para Finanças Internacionais, pressionou para que fossem tomadas medidas combinadas entre o Fed e o FMI para dar liquidez ao mercado internacional de dólar, a fim de impedir que os problemas do sistema financeiro dos Estados Unidos e da Europa se espalhassem, prejudicando economias emergentes. Algumas economias mais frágeis, como as do Leste Europeu e a da Islândia, estão recebendo empréstimos em caráter de emergência do FMI, num novo programa que é considerado um dos maiores da história.
Já o programa de swap cambial do Fed foi concebido para países ameaçados de inadimplência corporativa à medida que os investidores estrangeiros vão embora. Esses países, entre eles Brasil, México e Coréia do Sul, dependem de capital estrangeiro para financiar o comércio e os investimentos.
O economista Claudio Loser, do Centro de Estudos Diálogo Interamericano, de Washington, foi quem melhor resumiu a situação: tanto no Brasil quanto no México, o câmbio se desvalorizou cerca de 40%, um choque muito forte que indica uma debilidade maior do que a prevista, devido à forte vinculação com o mercado de capitais.
Mas foi essa “vinculação forte” com os mercados internacionais que permitiu que nos últimos cinco anos tenha havido, na definição de Ken Rogoff, professor de Harvard, “o mais forte ciclo de expansão da economia mundial, do comércio internacional e da liquidez global da história moderna”.
Um exemplo simples de como esse “cassino”, como o Presidente Lula qualifica o mercado financeiro, ajudou o fortalecimento da economia brasileira. Entre 72 setores da economia, as instituições financeiras foram responsáveis por nada menos que 28% do aumento de arrecadação este ano. Se a elas somarmos o setor de seguros, outra atividade do setor, chega a 1/3 a contribuição do setor no aumento da arrecadação.
O governo Lula movia o “cassino” ao combinar câmbio valorizado e os maiores juros do mundo, mas cobrava um pedágio, arrecadando Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, IOF e contribuições.
Enquanto todos esperavam que a “marolinha” viria do lado bancário, está cada vez mais claro que, no Brasil, ao contrário do resto do mundo, o que está sofrendo mais é o setor real, com o que a equipe econômica não contava.
No Congresso em Brasília não se fala outra coisa, pois a elite parlamentar é composta em grande parte por empresários.
Pelas notícias que chegam a cada dia, os problemas vão do etanol, passando por criação e abate de aves e suínos, até o complexo automobilístico e também o eletrônico: a completa ausência de crédito está provocando paralisia quase absoluta de atividades.
Um exemplo básico das dificuldades peculiares ao Brasil: pintos estão morrendo porque não entregaram rações nas granjas, caso de que não se ouviu falar na Europa ou nos Estados Unidos, e nem mesmo em países vizinhos com maiores dificuldades, com a Argentina.
Uma leitura atenta do noticiário, principalmente nos jornais americanos e ingleses, mostra uma faceta da crise que tem sido mascarada pelas declarações de autoridades brasileiras. O programa de troca de moedas, mais do que um prêmio à boa gestão macroeconômica desses países, como destacou o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, ressalta a fragilidade das duas grandes economias da América Latina, segundo analistas.
Um desses, Steve Hanke, especialista em mercados emergentes do Cato Institute de Washington e professor da Universidade Johns Hopkins, diz que a decisão do Fed mostra que as moedas “são o calcanhar de Aquiles destes países” e “nunca serão sustentáveis a longo prazo”.
O grande investidor George Soros, em artigo no Financial Times, sugeriu que os bancos centrais dos países do centro deveriam criar grandes linhas para swaps com os bancos centrais dos países periféricos qualificados, assim como os países dotados de fortes reservas cambiais, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, China e Japão, deveriam estabelecer um fundo suplementar de desembolso mais flexível.
Essa “receita” está sendo seguida pelo FMI, que em seus programas atuais está utilizando métodos mais flexíveis e praticamente automáticos, sem tanta dependência das famosas “condicionalidades” que engessavam as economias que recebiam a ajuda do Fundo, criando problemas políticos para os clientes-governos.
George Soros também defendeu no mesmo artigo mais crédito de curto e de longo prazo para permitir que os países com posições fiscais sólidas pratiquem políticas de investimento público anticíclico, na mesma direção que está seguindo o governo brasileiro, que já anunciou que reduzirá o superávit primário para financiar obras do PAC. Para Soros, “apenas o estímulo à demanda interna permitirá eliminar o espectro de uma depressão mundial”.
Ele prevê que poderá fracassar a Cúpula sobre Mercados Financeiros e Economia Mundial, reunião convocada pelo presidente dos Estados Unidos, George Bush, para o próximo dia 15, com os membros do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) e mais nações emergentes como Arábia Saudita, África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coréia do Sul, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia, se os Estados Unidos não derem o exemplo na proteção aos países periféricos contra uma tempestade que se originou em sua economia.
Por enquanto, no entanto, os Estados Unidos estão cuidando apenas dos interesses de suas corporações espalhadas pelo mundo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
novembro
(421)
- Além da cachaça no New York Times
- Augusto Nunes Sete Dias
- DANUZA LEÃO Comporte-se, Lula
- YOSHIAKI NAKANO O Brasil precisa de nova estratégia
- MIRIAM LEITÃO - O olhar do tempo
- MERVAL PEREIRA - Vácuo de poder
- Lições da História O GLOBO EDITORIAL,
- Velhotes municipais JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Suely Caldas Regulação-ter ou não ter?
- CELSO MING Para onde vai o dolar
- Dora Kramer Mestiço sestroso
- Cena impensável Sérgio Fausto
- Olhos vermelhos, nunca mais
- CLÓVIS ROSSI Nova Orleans tropical?
- Questão de empresa Miriam Leitão
- Pretexto O GLOBO EDITORIAL,
- Explicações O GLOBO EDITORIAL,
- MERVAL PEREIRA América Latina no radar
- O preço da luta contra a recessão O Estado de S. ...
- Obama e Roosevelt Boris Fausto
- Tentativa de intimidação O Estado de S. Paulo EDIT...
- Inundações em Santa Catarina O Estado de S. Paulo...
- A Petrobrás deve respostas O Estado de S. Paulo E...
- DORA KRAMER As águas vão rolar
- CELSO MING Os preços políticos da Petrobrás
- VEJA Carta ao Leitor
- VEJA EntrevistaJill Bolte Taylor Vi meu cérebro mo...
- Gustavo Ioschpe Violência escolar: quem é a vítima?
- Diogo Mainardi 2 789 toques
- Maílson da Nóbrega A regulação chegou? Ou nunca fo...
- Stephen Kanitz Administradores de esquerda
- MILLOR
- Radar
- Espionagem O homem-chave do caso Abin-PF
- Calote do Equador muda política externa
- No governo por liminar
- A nova fronteira do terror
- PRIMEIRA GRANDEZA
- Santa Catarina,O horror diante dos olhos
- O óleo dos deuses
- Católicos reclusos
- A união faz a beleza
- Em busca da ligação mais econômica
- Telefones híbridos
- As ligações computador a computador
- Livros Correspondência de Machado de Assis
- Televisão Law & Order – SVU
- Cinema O amor verdadeiro
- Veja Recomenda
- Santa Catarina por Maria Helena Rubinato
- Paulo Renato, o Grande Chefe Branco e os intelectu...
- Míriam Leitão - Dois pontos cruciais da operação C...
- Clipping 28/11/2008
- Fórmula fatal O GLOBO EDITORIAL,
- Sinal ruim Míriam Leitão
- De falcões e pombos Merval Pereira
- Calçar o inferno Luiz Garcia O Globo
- VINICIUS TORRES FREIRE Empresas desgovernadas
- FERNANDO GABEIRA O futuro das chuvas
- CLÓVIS ROSSI A violência e as culpas
- Foi bom para a Rússia O Estado de S. Paulo EDITORIAL
- Os ''milagres'' nas contas públicas O Estado de S...
- Dora Kramer Rolando Lero O ESTADO DE S PAULO
- Celso Ming - A força do consumo -Estadao
- PODCAST Diogo Mainardi 27 de novembro de 2008
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- Clipping 27/11/2008
- Não é 1929: Carlos Alberto Sandemberg
- O Plano de Itararé Míriam Leitão
- MERVAL PEREIRA - Crise e oportunidade
- Muitos bilhões e pouco efeito O Estado de S. Paul...
- Brincando com a reforma dos impostos: Rolf Kuntz O...
- Carta aberta ao Grande Chefe Branco-Demétrio Magno...
- Dora Kramer De mau a pior
- Celso Ming Confiança, artigo em falta
- Villas-Bôas Corrêa O retrato da nossa crise
- Augusto Nunes JB-O sacador de talões mais ágil do ...
- MERVAL PEREIRA No limite da irresponsabilidade
- Miriam Leitão O futuro da crise O GLOBO
- Dora Kramer De papel passado O ESTADO DE S PAULO
- Clipping 26/11/2008
- Novo pacote bilionário Celso Ming
- Katrina passou na janela, e a Carolina barbuda não...
- A ousadia de um chefe de quadrilha
- Clipping 25/11/2008
- Operação salva-vidas Celso Ming
- Dora Kramer # Mudança de hábito
- O consenso americano O ESTADO DE S PAULO EDITORIAL
- A reestatização argentina o estado de s paulo edit...
- O calote do Equador o estado de s paulo editorial
- Em gelo fino Miriam Leitão
- Insensatas complicações LUIZ GARCIA
- Obama e o Brasil LUIZ FELIPE LAMPREIA
- Chávez menor O Globo Opinião
- Sinais a decifrar O Globo OPINIÃO
- Teste de liderança Merval Pereira
- Rubens Barbosa, ATE QUANDO?
- VEJA Carta ao Leitor Sete cães a um osso
- VEJA Entrevista: Eunice Durham
- Lya Luft Uma panela de água e sal
-
▼
novembro
(421)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA