Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 02, 2008

O GLOBO EDITORIAL, Risco pós-crise

O marco pode ser o ano passado, quando foram percebidas as primeiras faíscas do rastilho da crise das hipotecas subprimes, ou o segundo semestre deste ano, em que algumas das maiores economias do planeta, com os EUA à frente, terão entrado em recessão. O certo é que a atual crise, tachada em coro como a mais grave desde a Grande Depressão do século passado, encerra um dos mais vigorosos e longos ciclos de expansão mundiais.

Os benefícios desse período, cujo símbolo é a emergência da China como potência econômica, são visíveis em todo o mundo, inclusive, é claro, no Brasil. O país conseguiu praticamente triplicar as exportações em dez anos — neste deverão ser de cerca de US$ 200 bilhões — e ampliar sua participação no comércio internacional. Na Eurásia, um supercontinente que, no sentido oeste-leste, tem como extremos Portugal e uma das bordas da China, e do qual faz parte outra potência emergente, a Índia, conseguiu colocar no mercado de trabalho — vale dizer, melhorar as condições de vida — centenas de milhões de pessoas. Não há fato precedente dessa magnitude na História.

A adoção de princípios capitalistas pela China foi crucial para esse ciclo de crescimento. Mas, se não houvesse um sistema financeiro globalizado, ágil e criativo, capaz de financiar projetos em todo o planeta, fazer com eficiência o trânsito da poupança para o investimento e consumo, não teria havido o ciclo.

Hoje, esse sistema, abalado pelo estouro da bolha de especulação inflada em torno do mercado imobiliário americano, e de cuja criação ele participou, é confundido por alguns com um “cassino”. Trata-se de um equívoco, geralmente cometido por preconceito ideológico.

São flagrantes os erros cometidos por banqueiros, e não apenas de Wall Street. Parece ter passado a ser mais importante a busca por um gordo bônus no final do ano do que o essencial exercício da prudência.

É indiscutível, também, que limites para a alavancagem das instituições financeiras — a proporção entre recursos de terceiros e patrimônio próprio usada nas operações — precisam ser discutidos para valerem em escala mundial.

Mas há risco, por causa do clamor por uma regulação que se pretende salvadora, uma ilusória vacina contra falências, de se engessar a intermediação financeira em escala mundial, e castrar-se a criatividade do sistema. Como qualquer crise, esta aponta caminhos. No entanto, é preciso cuidado para não se prejudicar o lado positivo da globalização financeira. Que existe, produziu renda e gerou bem-estar no mundo inteiro. O objetivo deve ser recolocar o sistema nos eixos, para que volte a cumprir este mesmo papel.

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