Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 15, 2008

A favorita Miriam Leitão

A única mulher que governou o Brasil foi a Princesa Isabel, em interinidades, três anos ao todo, no século XIX. O século XX foi masculino e o atual será o da diversidade. Que a nossa não seja, como na Argentina, uma mulher à sombra do patrocinador. O presidente Lula a indicou e, agora, Dilma Rousseff vai ser exposta ao sol e ao sereno. Suas idéias fiscais e ambientais precisam de atualização.

Os políticos já viviam no ano de 2010 e, com a declaração de Lula na Itália, não voltarão ao tempo presente.

Muitas dúvidas cercam a chefe da Casa Civil.

Não se sabe se ela sobreviverá à guerra campal no PT; se agüenta uma campanha; se terá o carisma para arrebatar a maioria do eleitorado; quanto de votos o presidente Lula vai transferir.

Já se sabe que, lançada, entra na linha de tiro dos rivais internos.

A eleição municipal de 2008 deixou informações curiosas, que embaralham as explicações convencionais sobre a política brasileira. O PT perdeu a eleição e o PSDB também.

Nas principais capitais eles não ganharam a prefeitura.

O debate sobre quem é mais vitorioso no mundo tucano, se José Serra, se Aécio Neves, é ocioso. Seus candidatos venceram, mas nenhum dos dois prefeitos eleitos é do PSDB. Serra ganhou a guerra interna e fez uma ponte para uma aliança com um partido de direita, que está cadente. O DEM ficou menor e sem São Paulo teria tido uma derrota feia.

Serra participou pouco da campanha; Aécio e o petista Fernando Pimentel quase sufocaram o candidato de tanto patrociná-lo. Precisaram se afastar, no segundo turno, para que ele consolidasse sua dianteira. É como se o eleitor de Belo Horizonte estivesse dizendo aos seus líderes, em castiço mineirês, idioma que domino de berço: “Já sei que “ocês” são “bão”, uai, mas quero “conhecê mió” esse candidato “docês, sô!” O eleitorado brasileiro disse a Lula que gostava dele, mas não votava em quem ele indicava. No auge da popularidade, com frutos do melhor momento econômico dos seus dois mandatos, Lula não teve o que mandou os jornalistas escreverem: “Escrevam aí, Marta vai ganhar a eleição.” Acumulou outros fiascos como o de Natal. Dilma subiu no palanque de Maria do Rosário, em Porto Alegre, onde tem título eleitoral, e iniciou sua carreira pública. Perdeu.

A vitória do PMDB também é cheia de significados.

Para quem olha a política de fora, como eu, é intrigante o fato de que o partido que mais bancadas faz no Congresso, e mais prefeitos elege, nunca conseguiu ter um candidato viável para a eleição presidencial, aceitando o papel de coadjuvante — guloso, é verdade — em todos os governos. Sempre no poder; nunca na Presidência.

Especialistas dizem que o PMDB, nesta eleição, firmouse como um condomínio de máquinas locais, confirmou sua natureza municipalista e que, controlando mais cidades, tem chance de fazer grandes bancadas na próxima eleição. Seus problemas: não tem um projeto nacional e, sim, uma colcha de retalhos de interesses fisiológicos regionais e nunca uniu o partido em torno de um candidato presidencial.

O cenário político brasileiro é esquisito. A mais nacional das máquinas partidárias não disputa a Presidência e está sempre no poder; os dois partidos que governaram o país nos últimos 14 anos lideram coalizões, mas não administram as principais cidades e não têm as maiores bancadas na Câmara e no Senado. O PT abandonou seu plano econômico — câmaras setoriais, controle de preço, controle de câmbio, protecionismo, não pagamento da dívida externa e auditoria na dívida interna — e adotou o do partido adversário — metas de inflação, câmbio flutuante, Lei de Responsabilidade Fiscal e abertura comercial. Isso pasteurizou as propostas.

Vários partidos menores cresceram nesta eleição e serão disputados na formação das chapas, mas 2010 pode ser parecido com 1989, eleição muito disputada no primeiro turno, com vários candidatos competitivos e muita dispersão de votos. Há duas grandes incógnitas não respondidas: Dilma passará pelo PT? O PSDB vai resolver a eterna guerra Serra-Aécio? Há cenários, não há certezas.

Foi só o presidente ir ao Papa e dizer o que pensa para a guerra em torno de Dilma começar. Ricardo Berzoini lembrou que há um processo interno no partido, a ser respeitado. O capixaba Renato Casagrande (PSB) disse que ela precisa ir para o sereno; Garibaldi Alves disse que ela precisa ir para o sol. No Espírito Santo, quem vai para o sereno e pega vento sul, adoece; no Nordeste, o sol faz carne-seca.

Dilma terá ainda que superar sua inabilidade no debate público e atualizar suas idéias. Na área fiscal, fulminou com o adjetivo “rudimentar” a melhor idéia defendida por seus companheiros, a do déficit zero na época da fartura. Isso permitiria política contracíclica agora. Na área ambiental, nunca demonstrou entender de que matéria o futuro será feito. A questão ambiental-climática estará em todas as equações econômicas daqui para a frente. Seu modelo energético resultou em mais estatismo e mais emissão de carbono. Os últimos leilões aprovaram projetos que sujam a matriz energética, quando a faxina já começou em outros países.

Mas o pior para qualquer candidato que depende da bênção presidencial é que, antes de 2010, haverá 2009: um ano econômico difícil, desafiador, decisivo.

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