A única mulher que governou o Brasil foi a Princesa Isabel, em interinidades, três anos ao todo, no século XIX. O século XX foi masculino e o atual será o da diversidade. Que a nossa não seja, como na Argentina, uma mulher à sombra do patrocinador. O presidente Lula a indicou e, agora, Dilma Rousseff vai ser exposta ao sol e ao sereno. Suas idéias fiscais e ambientais precisam de atualização.
Os políticos já viviam no ano de 2010 e, com a declaração de Lula na Itália, não voltarão ao tempo presente.
Muitas dúvidas cercam a chefe da Casa Civil.
Não se sabe se ela sobreviverá à guerra campal no PT; se agüenta uma campanha; se terá o carisma para arrebatar a maioria do eleitorado; quanto de votos o presidente Lula vai transferir.
Já se sabe que, lançada, entra na linha de tiro dos rivais internos.
A eleição municipal de 2008 deixou informações curiosas, que embaralham as explicações convencionais sobre a política brasileira. O PT perdeu a eleição e o PSDB também.
Nas principais capitais eles não ganharam a prefeitura.
O debate sobre quem é mais vitorioso no mundo tucano, se José Serra, se Aécio Neves, é ocioso. Seus candidatos venceram, mas nenhum dos dois prefeitos eleitos é do PSDB. Serra ganhou a guerra interna e fez uma ponte para uma aliança com um partido de direita, que está cadente. O DEM ficou menor e sem São Paulo teria tido uma derrota feia.
Serra participou pouco da campanha; Aécio e o petista Fernando Pimentel quase sufocaram o candidato de tanto patrociná-lo. Precisaram se afastar, no segundo turno, para que ele consolidasse sua dianteira. É como se o eleitor de Belo Horizonte estivesse dizendo aos seus líderes, em castiço mineirês, idioma que domino de berço: “Já sei que “ocês” são “bão”, uai, mas quero “conhecê mió” esse candidato “docês, sô!” O eleitorado brasileiro disse a Lula que gostava dele, mas não votava em quem ele indicava. No auge da popularidade, com frutos do melhor momento econômico dos seus dois mandatos, Lula não teve o que mandou os jornalistas escreverem: “Escrevam aí, Marta vai ganhar a eleição.” Acumulou outros fiascos como o de Natal. Dilma subiu no palanque de Maria do Rosário, em Porto Alegre, onde tem título eleitoral, e iniciou sua carreira pública. Perdeu.
A vitória do PMDB também é cheia de significados.
Para quem olha a política de fora, como eu, é intrigante o fato de que o partido que mais bancadas faz no Congresso, e mais prefeitos elege, nunca conseguiu ter um candidato viável para a eleição presidencial, aceitando o papel de coadjuvante — guloso, é verdade — em todos os governos. Sempre no poder; nunca na Presidência.
Especialistas dizem que o PMDB, nesta eleição, firmouse como um condomínio de máquinas locais, confirmou sua natureza municipalista e que, controlando mais cidades, tem chance de fazer grandes bancadas na próxima eleição. Seus problemas: não tem um projeto nacional e, sim, uma colcha de retalhos de interesses fisiológicos regionais e nunca uniu o partido em torno de um candidato presidencial.
O cenário político brasileiro é esquisito. A mais nacional das máquinas partidárias não disputa a Presidência e está sempre no poder; os dois partidos que governaram o país nos últimos 14 anos lideram coalizões, mas não administram as principais cidades e não têm as maiores bancadas na Câmara e no Senado. O PT abandonou seu plano econômico — câmaras setoriais, controle de preço, controle de câmbio, protecionismo, não pagamento da dívida externa e auditoria na dívida interna — e adotou o do partido adversário — metas de inflação, câmbio flutuante, Lei de Responsabilidade Fiscal e abertura comercial. Isso pasteurizou as propostas.
Vários partidos menores cresceram nesta eleição e serão disputados na formação das chapas, mas 2010 pode ser parecido com 1989, eleição muito disputada no primeiro turno, com vários candidatos competitivos e muita dispersão de votos. Há duas grandes incógnitas não respondidas: Dilma passará pelo PT? O PSDB vai resolver a eterna guerra Serra-Aécio? Há cenários, não há certezas.
Foi só o presidente ir ao Papa e dizer o que pensa para a guerra em torno de Dilma começar. Ricardo Berzoini lembrou que há um processo interno no partido, a ser respeitado. O capixaba Renato Casagrande (PSB) disse que ela precisa ir para o sereno; Garibaldi Alves disse que ela precisa ir para o sol. No Espírito Santo, quem vai para o sereno e pega vento sul, adoece; no Nordeste, o sol faz carne-seca.
Dilma terá ainda que superar sua inabilidade no debate público e atualizar suas idéias. Na área fiscal, fulminou com o adjetivo “rudimentar” a melhor idéia defendida por seus companheiros, a do déficit zero na época da fartura. Isso permitiria política contracíclica agora. Na área ambiental, nunca demonstrou entender de que matéria o futuro será feito. A questão ambiental-climática estará em todas as equações econômicas daqui para a frente. Seu modelo energético resultou em mais estatismo e mais emissão de carbono. Os últimos leilões aprovaram projetos que sujam a matriz energética, quando a faxina já começou em outros países.
Mas o pior para qualquer candidato que depende da bênção presidencial é que, antes de 2010, haverá 2009: um ano econômico difícil, desafiador, decisivo.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2008
(5781)
-
▼
novembro
(421)
- Além da cachaça no New York Times
- Augusto Nunes Sete Dias
- DANUZA LEÃO Comporte-se, Lula
- YOSHIAKI NAKANO O Brasil precisa de nova estratégia
- MIRIAM LEITÃO - O olhar do tempo
- MERVAL PEREIRA - Vácuo de poder
- Lições da História O GLOBO EDITORIAL,
- Velhotes municipais JOÃO UBALDO RIBEIRO
- Suely Caldas Regulação-ter ou não ter?
- CELSO MING Para onde vai o dolar
- Dora Kramer Mestiço sestroso
- Cena impensável Sérgio Fausto
- Olhos vermelhos, nunca mais
- CLÓVIS ROSSI Nova Orleans tropical?
- Questão de empresa Miriam Leitão
- Pretexto O GLOBO EDITORIAL,
- Explicações O GLOBO EDITORIAL,
- MERVAL PEREIRA América Latina no radar
- O preço da luta contra a recessão O Estado de S. ...
- Obama e Roosevelt Boris Fausto
- Tentativa de intimidação O Estado de S. Paulo EDIT...
- Inundações em Santa Catarina O Estado de S. Paulo...
- A Petrobrás deve respostas O Estado de S. Paulo E...
- DORA KRAMER As águas vão rolar
- CELSO MING Os preços políticos da Petrobrás
- VEJA Carta ao Leitor
- VEJA EntrevistaJill Bolte Taylor Vi meu cérebro mo...
- Gustavo Ioschpe Violência escolar: quem é a vítima?
- Diogo Mainardi 2 789 toques
- Maílson da Nóbrega A regulação chegou? Ou nunca fo...
- Stephen Kanitz Administradores de esquerda
- MILLOR
- Radar
- Espionagem O homem-chave do caso Abin-PF
- Calote do Equador muda política externa
- No governo por liminar
- A nova fronteira do terror
- PRIMEIRA GRANDEZA
- Santa Catarina,O horror diante dos olhos
- O óleo dos deuses
- Católicos reclusos
- A união faz a beleza
- Em busca da ligação mais econômica
- Telefones híbridos
- As ligações computador a computador
- Livros Correspondência de Machado de Assis
- Televisão Law & Order – SVU
- Cinema O amor verdadeiro
- Veja Recomenda
- Santa Catarina por Maria Helena Rubinato
- Paulo Renato, o Grande Chefe Branco e os intelectu...
- Míriam Leitão - Dois pontos cruciais da operação C...
- Clipping 28/11/2008
- Fórmula fatal O GLOBO EDITORIAL,
- Sinal ruim Míriam Leitão
- De falcões e pombos Merval Pereira
- Calçar o inferno Luiz Garcia O Globo
- VINICIUS TORRES FREIRE Empresas desgovernadas
- FERNANDO GABEIRA O futuro das chuvas
- CLÓVIS ROSSI A violência e as culpas
- Foi bom para a Rússia O Estado de S. Paulo EDITORIAL
- Os ''milagres'' nas contas públicas O Estado de S...
- Dora Kramer Rolando Lero O ESTADO DE S PAULO
- Celso Ming - A força do consumo -Estadao
- PODCAST Diogo Mainardi 27 de novembro de 2008
- AUGUSTO NUNES Sete Dias
- Clipping 27/11/2008
- Não é 1929: Carlos Alberto Sandemberg
- O Plano de Itararé Míriam Leitão
- MERVAL PEREIRA - Crise e oportunidade
- Muitos bilhões e pouco efeito O Estado de S. Paul...
- Brincando com a reforma dos impostos: Rolf Kuntz O...
- Carta aberta ao Grande Chefe Branco-Demétrio Magno...
- Dora Kramer De mau a pior
- Celso Ming Confiança, artigo em falta
- Villas-Bôas Corrêa O retrato da nossa crise
- Augusto Nunes JB-O sacador de talões mais ágil do ...
- MERVAL PEREIRA No limite da irresponsabilidade
- Miriam Leitão O futuro da crise O GLOBO
- Dora Kramer De papel passado O ESTADO DE S PAULO
- Clipping 26/11/2008
- Novo pacote bilionário Celso Ming
- Katrina passou na janela, e a Carolina barbuda não...
- A ousadia de um chefe de quadrilha
- Clipping 25/11/2008
- Operação salva-vidas Celso Ming
- Dora Kramer # Mudança de hábito
- O consenso americano O ESTADO DE S PAULO EDITORIAL
- A reestatização argentina o estado de s paulo edit...
- O calote do Equador o estado de s paulo editorial
- Em gelo fino Miriam Leitão
- Insensatas complicações LUIZ GARCIA
- Obama e o Brasil LUIZ FELIPE LAMPREIA
- Chávez menor O Globo Opinião
- Sinais a decifrar O Globo OPINIÃO
- Teste de liderança Merval Pereira
- Rubens Barbosa, ATE QUANDO?
- VEJA Carta ao Leitor Sete cães a um osso
- VEJA Entrevista: Eunice Durham
- Lya Luft Uma panela de água e sal
-
▼
novembro
(421)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA