Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 14, 2008

VINICIUS TORRES FREIRE As crises que ainda virão



Bancos, Bolsas? A perda de empregos, do patrimônio e da confiança dos indivíduos vai realimentar a crise financeira

A EXTRAORDINÁRIA liberação de dinheiro para os bancos brasileiros, decidida ontem pelo Banco Central, pode parecer um assunto principal nas discussões sobre os efeitos da crise no Brasil. Mas não é bem o caso, embora a decisão de relaxar o compulsório tenha sido muito sensata e necessária. O dinheiro reinjetado nos bancos não deve fluir rápido entre instituições financeiras e para empresas, entre outros motivos porque: 1) A paralisia no crédito brasileiro foi provocada por uma epidemia global de medo. Tal epidemia foi apenas ligeiramente amainada ontem, mesmo com os trilhões que os países ricos reservaram para estatizar bancos e riscos financeiros; 2) O vírus da crise global revelou um problema desconhecido no Brasil. Há dezenas de empresas encrencadas devido a aplicações financeiras arriscadas, em dólar; 3) O contágio colocou pequenos bancos em dificuldades (e ainda vão dificultar a vida de empresas que nada tinham a ver com o pato), o que deixa os bancos maiores com o pé atrás. Dada a ação do BC, tais riscos tendem a diminuir com o tempo, pois os bancos grandes vão começar a perder dinheiro se ficarem com os recursos parados por muito tempo; 4) Ignora-se o que será do comércio exterior e do investimento externo em 2009. Logo, ninguém sabe nada do futuro do câmbio e do tamanho da contração de consumo doméstico necessária para acomodar a baixa do fluxo externo de dinheiro. Nesses dias em que só se fala de Bolsas, esquece-se ainda que mais e mais gente perde o emprego no mundo rico. O valor de seus ativos cai: cai o preço de casas; poupanças de uma vida viram pó. Desemprego, choque de confiança e queda do patrimônio causam redução de consumo, o que deve causar mais inadimplência e mais problemas nas instituições financeiras. Mesmo sem tal rebote, a limpeza do lixo em bancos e afins continua de moto próprio. Em suma, o círculo vicioso que começou com a crise nos bancos ainda vai dar muitas voltas. Como há menos instituições financeiras e as que sobraram dispõem de menos capital, haverá menos crédito para investimento e consumo. O impacto da crise financeira na economia "real" (em emprego, renda e patrimônio), pois, ainda vai redundar em mais perdas para bancos e afins. Para piorar, um dos motores da economia mundial era o superendividamento dos americanos, o que ajudava a impulsionar fabricantes de manufaturados asiáticos, que consumiam em massa matérias primas, como as brasileiras. Vai haver algum efeito dominó agora, derrubando o consumo no mundo inteiro. Com as medidas tomadas pelas autoridades dos países do mundo rico, tal processo deve ser amainado, mas dificilmente contido. Com a carência de crédito privado e de consumo, tais países terão de aumentar suas dívidas com o objetivo de dar impulso à economia por meio de obras públicas e, talvez, redução de dívidas dos próprios consumidores à beira da inadimplência (como no caso dos compradores de casa americanos). Um pacote de estímulo fiscal é discutido no Congresso dos EUA e começa a ser cogitado na Europa. Tal medida é quase um consenso entre todos os economistas que não sejam liberais de hospício. vinit uol.com.br

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