Embora muitos serviços sejam terceirizados, parcela preponderante dos investimentos em construções e ampliações nas infra-estruturas aeroportuárias é feita com recursos governamentais. Esses, quando escassos, comprometem a continuidade de planos e projetos em prejuízo da eficiência e imagem do sistema de aviação civil. Para superar essa restrição, têm sido formulados novos mecanismos de financiamento baseados nos conceitos de "Project Finance", parcerias e concessões. Esbarram, todavia, na dificuldade de superar a ótica tradicional de vê-las como áreas de responsabilidade pública direta em razão do forte envolvimento com o controle do espaço aéreo. Por outro lado, não se pode ver o aeroporto como uma atividade econômica a ser regulada pelo mercado. Por mais que se insira no mercado como "negócio", trata-se também de um serviço público que exige mecanismos reguladores das suas múltiplas funções. A concessão de uma infra-estrutura aeroportuária não implica, assim, simplesmente delegar a terceiros a exploração dos serviços e os investimentos. Pressupõe, sobretudo, avanços nos domínios da gestão, das operações multimodais, da incorporação de tecnologia e, sobretudo, da segurança de vôo.
Num momento em que é lançada a idéia de "privatização" de aeroportos, cabe refletir com equilíbrio e serenidade sobre os caminhos a serem trilhados. Dada a grande complexidade do sistema de aviação civil, mais do que nunca é necessário um esforço abrangente de planejamento de médio e longo prazos. Como os investimentos nos aeroportos resultam de necessidades concretas da demanda de passageiros e de cargas, que se traduzem por sua vez em movimentação de aeronaves e imposições de segurança, é imprescindível que se tenha uma visão integrada das tendências e cenários para o desenvolvimento: 1) da rede aeroportuária; 2) do controle do espaço aéreo e da proteção ao vôo; 3) da indústria aeronáutica e da absorção de aeronaves pelas empresas aéreas; e 4) das conexões terrestres com os principais aeroportos.
Tomando-se o horizonte dos próximos 30 anos, as mudanças no panorama da aviação civil serão drásticas. O controle do espaço aéreo será feito por satélites estacionários, o que exigirá vultosos investimentos e grande esforço de desenvolvimento tecnológico pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo e pela Agência Espacial Brasileira. A indústria aeronáutica mundial produzirá aeronaves que acentuarão a tendência de elevar a eficiência dos combustíveis, a velocidade média e o número de passageiros por vôo. Na medida em que mais pessoas e cargas demandarão o transporte aéreo, maiores serão as exigências por pistas, pátios e terminais em toda a hierarquia do sistema aeroportuário. As conexões ferroviárias e rodoviárias serão os pontos críticos da movimentação aeroportuária.
Concessões bem-sucedidas são um meio para dar suporte a estratégias de Estado. O momento é de saber o que se quer da aviação civil e qual é a estratégia para o seu desenvolvimento: estimular a competição com regulação vigilante? Estimular a desconcentração? Ampliar a universalização dos serviços? Aumentar o número de aeroportos em operação? Estimular a aviação regional? Vincular a aviação ao deslocamento das fronteiras econômicas? Se só os poucos aeroportos lucrativos forem concedidos, qual será a fonte de custeio para a legião dos deficitários?
*Josef Barat, economista, consultor, ex-diretor da Anac, é presidente do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Federação do Comércio do Estado de São Paulo