Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, outubro 08, 2008

PAULO RABELLO DE CASTRO Da bolha de Wall St. ao mundo pós-bolha



É preciso estabilizar o câmbio abaixo de R$ 2, destravar a liquidez e apontar os juros para baixo

NÃO TENHA mais dúvida. Sua vida e seus negócios mudarão muito com o estouro da "bolha de Wall Street". A crise é mundial. O Brasil já está infectado via crédito (que secou) e câmbio (que disparou). Poucos enxergaram que o estouro da bolha de crédito chegaria com a magnitude assumida nas últimas semanas. A virulência é de grau máximo, como vimos prognosticando há meses neste espaço.
A brutal alavancagem em operações fora dos balanços dos bancos, e classificadas erroneamente como transações seguras, fez a maioria das instituições inchar seus compromissos a ponto de virar caminhões-bomba, prontos para explodir. Alguns ainda explodirão.
O Fed (Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos) investiu, nos últimos 12 meses, quase US$ 600 bilhões comprando papéis micados.
Essa é a verdadeira razão do pacote de US$ 700 bilhões: rolar a posição do próprio Fed. E a razão do fracasso do anúncio do pacote: não convence mais os apostadores. Falta ir à fonte do problema, promovendo o encontro de contas entre os próprios envolvidos. Mas isso é outra história. Para nós, deveria servir a lição.
Nosso Banco Central tem de mudar, e radicalmente. Primeiro, parar de imitar os erros do Fed. Segundo, começar a fazer política monetária, não se confundindo esta com a política de subir juros, enquanto quer baixar compulsórios (?!).
O mundo da bolha era um, agora é outro. Mais arriscado e difícil para todos. Mas a crise abriu oportunidade única ao Brasil, de progredir enquanto outros empacam, afogados na sua hiperliquidez. O jogo é de busca de produtividade e eficiência no mundo real da produção, pós-queda do império das finanças descoladas da realidade.
Como fazer?
Primeiro, mitigar os riscos de quem mais corre riscos: o empresário do setor produtivo direto. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem sua grande hora neste momento. A Petrobras, como enorme demandadora de bens e serviços, idem.
E o governo central? Este poderia surpreender, anunciando um choque de gestão pública. Colocar uma meta de aumentar sua produtividade, medida por órgão independente, em 10% no mínimo, nos próximos 12 meses. Calculo o impacto monetário dessa ação revolucionária em R$ 80 bilhões, um salto em eficiência equivalente ao efeito de dez (incrível!) programas Bolsa Família.
Segundo: destravar a liquidez, com inteligência, direto nas fontes produtivas do agronegócio, dos exportadores -claro- e da indústria e do comércio.
Terceiro: flexibilizar as regras de contratação de mão-de-obra, para quem empregar mais na crise. Isso inclui repensar o absurdo conjunto de regras contra o estágio remunerado, recém-sancionado pelo presidente.
Quarto: estabilizar o câmbio abaixo de R$ 2 e apontar os juros para baixo.
Quinto: radicalizar a proposta tributária, conversando com a oposição já, para trazer a carga de impostos até 30% do PIB em 2020.
Esse anúncio, por si só, mudaria a cabeça do empresariado, que quer ver essa grande bandeira finalmente desfraldada.
E, se o presidente chegar a entender que a poupança dos trabalhadores seria seu grande trunfo para aumentar o grau de independência em relação a recursos externos, usaria a reforma da Previdência Social para abrir o céu dos brasileiros em meio às nuvens pesadas trazidas pela terrível bolha de Wall Street.

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