Mundo novo O GLOBO EDITORIAL,

Quando o furacão econômicofinanceiro em Wall Street atravessou o Atlântico, apanhou a Europa no contrapé. Os líderes da União Européia se deram conta de que haviam avançado muito na área monetária — 15 países formam a zona do euro. Entretanto, no que toca à regulamentação e à fiscalização, os mercados ainda são dependentes das autoridades de cada país. O Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, tem sua atuação voltada basicamente para a taxa de juros.

Esse fato imediatamente gerou tensões. A Irlanda reagiu rapidamente ao temor de uma quebradeira geral em seu sistema bancário e, sem consulta aos demais parceiros europeus, decidiu garantir os depósitos até determinada quantia. A iniciativa provocou uma reação em cadeia, com uma corrida de depositantes de outros países em busca das garantias. Com relutância, a Alemanha acabou seguindo os passos da Irlanda (mas garantindo a totalidade dos depósitos).

O Reino Unido, que inicialmente ofereceu um pacote de ajuda aos bancos, em seguida decidiu injetar dinheiro público diretamente na compra de ações das instituições em dificuldades, para estabilizálas.

Se, num primeiro momento, a engenharia da unificação européia mostrou-se insuficiente para lidar com o furacão, pouco a pouco os canais abertos por essa experiência acabaram facilitando a adoção de medidas em conjunto. O BCE passou a injetar capital no mercado, para aumentar a liquidez do sistema financeiro, e abriu uma linha de crédito de emergência para instituições em dificuldades nos países da zona do euro.

Embora ainda não haja fim à vista para o pesadelo, os bancos centrais têm feito esforços coordenados sem precedentes para evitar o pior. Mas está claro que o mundo precisará de novos instrumentos quando o furacão amainar. Parece não haver dúvidas que, desta crise, emergirá um mundo em que as responsabilidades serão mais compartilhadas. Então, a experiência européia fornecerá importantes elementos para a montagem das instituições a serem criadas para regular, zelar pelo mercado financeiro pós-crise e capazes de prevenir novas situações como a atual.