Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 17, 2008

Difícil de aceitar Por Raphael Curvo


É interessante a preocupação e irritação do povo americano, chinês, europeu e de outras partes do mundo. Na bonança era só alegria. Consumo em disparada, viagens, dinheiro disponível e por aí vai. Como a sobra era grande, investiram em bolsa de valores, o dinheiro virtual. Fortunas virtuais começaram a ser construídas pela especulação. Em momento algum pensaram em ganhá-las com investimento real. Quem tomou este caminho não está sofrendo tanto. Empreender era e é o correto. O difícil para os que tomaram o caminho da geração de empregos e renda é que essa crise virtual pode chegar com força no terreno real. Ela é mais perigosa ainda para o governo brasileiro que deixou de investir na infra-estrutura no período em que o mundo vivia com a economia em alta.

Agora, com a quebra do sistema bancário internacional, que dificilmente vai se reerguer antes de 2010, será quase impossível ter disponibilidade financeira para realizar tais investimentos. O governo já está caindo na real ao dizer em coletiva à imprensa que a crise vai chegar, como se já não tivesse em solo pátrio. O pior é que o presidente ainda insiste em estimular o consumo do brasileiro que, segundo ele, não será prejudicado no Natal. É claro que tem uma lógica nesse pedido. A arrecadação do governo não pode cair. O custo da máquina é gigantesco e necessita de muito dinheiro para fazer a ciranda. Até onde vai essa loucura não sei. Só sei que precisa de um freio.

A sorte do Brasil é ter comprado dólares, quando em queda, para evitar perdas para economia brasileira exportadora. Esta ação nos deu um fundo reserva de mais de US$ 200 bilhões. O processo agora é ao inverso, vende dólares para segurar a disparada que vai tornar monstro a dívida dos importadores e evitar a fuga e escassez de dinheiro na economia interna. Os especuladores estão promovendo a saída gigantesca do capital aqui aplicado para cobrirem as contas por lá. Tem saído muito mais dólares do que entrado.

O comércio internacional deverá sofrer redução de demanda. Milhares de empresas exportadoras e importadoras pelo mundo vão fechar as portas e se o nosso mercado interno não responder, a nossa situação será crítica. É algo com grandes possibilidades de acontecer em razão de que a economia brasileira nos últimos tempos girou em razão dos créditos, que estão no limite da capacidade de consumo, e programas sociais que são mera distribuição de dinheiro vindos, evidentemente, da força arrecadadora do estado. Está aí uma das razões da mensagem do presidente em não deixar de consumir. Deixar cair estes programas, é alto risco para 2010.

Como os salários dos trabalhadores são baixos e os juros devem subir, como já estão subindo, a situação natalina, no mínimo vai provocar uma avalanche de inadimplência em 2009. As chamadas classes sociais média, acima de R$ 545,66 e alta, maior que R$ 1350,00, criadas pelo IBGE / IPEA para dar status ao povo, mesmo com o DIEESE dizendo que o mínimo deveria ser de R$ 2500,00, passarão por maus bocados se mergulharem na proposta presidencial. A sorte de muitos, é que os bancos estão sendo muito seletivos na contratação dos empréstimos.

Outros sustentáculos estão nas commodities minerais e agrícolas. Entretanto, perdem fôlego comercial, em volume, no mercado internacional. O preço dos alimentos deverá sofrer queda em um primeiro momento e como os insumos, fertilizantes e outros necessários ao plantio são cotados em dólares, logo haverá redução da produção pela alta da moeda americana, com conseqüente aumento do seu valor. Caminho inverso do que falam os economistas. Com a queda do consumo de matéria prima e financiamentos de derivados dos produtos minerais, automóveis, por exemplo, o impacto se estenderá em cadeia ao setor periférico industrial e ao mercado de trabalho, seus empregadores e empregados.

O momento é muito bom para quem tem real dinheiro. Haverá na praça muita pechincha, até nas bolsas de valores. Aos que não tem, incluso eu, temos que contar com alguma coisa como sorte. É mole ou quer mais? Será difícil aceitar.

(*) Raphael Curvo é Jornalista, advogado pela PUC-RJ e pos graduado pela Cândido Mendes-RJ

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