Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 14, 2008

A crise está redefinindo nossos líderes


14/10/2008


Gideon Rachman

Se a alta do mercado de segunda-feira realmente sinalizar uma virada na crise financeira mundial, o mundo saudará um salvador improvável. Dê um passo à frente Gordon Brown, o soturno primeiro-ministro do Reino Unido.

Até o estouro da crise, a imagem de Brown era de uma figura tragicômica: um homem que queria desesperadamente ser primeiro-ministro, mas que tinha provado ser irremediavelmente inadequado para o cargo.

Mas o plano de resgate de Brown foi adotado não apenas no Reino Unido, mas por todo o mundo. Na última sexta-feira, Paul Krugman, o novo prêmio Nobel de economia, elogiou o governo britânico por "exibir o tipo de pensamento claro que anda tão escasso na América". Ele escreveu: "Os Estados Unidos e a Europa devem apenas dizer: 'Sim, primeiro-ministro'. O plano britânico não é perfeito, mas... ele oferece de longe o melhor modelo disponível para um amplo esforço de resgate".

O encontro de cúpula europeu de emergência em Paris, no fim de semana, viu os 15 membros da zona do euro adotarem os planos de resgate a bancos que pareciam notavelmente com a iniciativa britânica. As autoridades britânicas, para as quais freqüentemente era dito que em uma grande crise econômica eles seriam irremediavelmente atropelados pela zona do euro, estão desfrutando de seu momento de desagravo.

As crises definem os políticos. A sorte contrastante de Brown e do presidente George W. Bush ilustra isso. Em tempos normais, Brown freqüentemente parece indeciso, soturno e robótico. Em tempos normais, Bush parece animado, decisivo e um sujeito normal. Mas, em uma crise, os modos de ambos se transformam -um para melhor e o outro para pior. Brown repentinamente parece calmo, determinado e no controle. Bush tem a tendência infeliz de parecer em pânico e fora de sua competência.

A atual crise financeira parece na verdade ter animado Brown. Quando um celular tocou em maio ao seu discurso no final da semana passada, o primeiro-ministro fez uma rara piada espontânea, especulando sobre se seria a notícia de outro banco entrando em colapso. Este tipo de piada pode soar como sendo de muito mau gosto. Mas de alguma forma funcionou. Brown se tornou humorista. E, além disso, sua platéia tinha confiança de que ele tinha controla da situação.

A presidência de Bush também pode ser definida por sua reação a crises - mas de um modo ruim. Imediatamente após os ataques terroristas em Nova York e Washington, ele desapareceu, apesar de que sob orientação do serviço secreto. Ele posteriormente se recuperou e fez alguns bons discursos. Mas o péssimo desempenho de Bush durante o furacão Katrina consolidou sua reputação de incompetência. "Brownie, você está fazendo um ótimo trabalho" - o comentário que ele dirigiu ao chefe da resposta do governo federal ao desastre - parecia ser o comentário definidor de seu mandato.

Mas agora ele tem um forte concorrente. O suposto comentário do presidente de que "esta porcaria pode afundar" foi a única coisa memorável que ele disse durante toda a crise financeira. Infelizmente, isso o fez soar como um texano na ponte do Titanic. Compare com o que disse Roosevelt: "A única coisa que devemos temer é o próprio medo".

Apesar de Brown ter se saído bem e Bush ter se saído mal, eles não são os únicos políticos atuando na crise financeira mundial. Logo, quais são os veredictos preliminares para os demais políticos?

Peer Steinbrück, o ministro das finanças alemão, conquistou o prêmio especial de bobo por seu triunfalismo prematuro. Ao sugerir no mês passado que "a crise se originou nos Estados Unidos e atingirá principalmente os Estados Unidos" ele tentou o destino. Angela Merkel, a chanceler alemã, também não se cobriu de glória. Ao apelar por uma resposta européia e então anunciar medidas alemãs unilaterais, isso fez com que parecesse inconsistente - para dizer de um modo educado.

Em comparação, Nicolas Sarkozy se saiu bem. "Tranqüilizador" não é uma palavra que geralmente se aplica ao hiperativo presidente francês. Mas Sarkozy pareceu enérgico e determinado. Como a França ocupa atualmente a presidência da União Européia, ele teve a tarefa de pesadelo de tentar elaborar uma resposta conjunta européia. No evento, o encontro de cúpula da noite de domingo, em Paris, foi uma ocasião muito mais bem-sucedida do que muitos encontros da UE para se discutir crises. Ao evitar uma farsa e apresentar uma frente unida ao mundo, Sarkozy salvou a UE de um maior embaraço.

Nos Estados Unidos, parece claro que a crise foi melhor para Barack Obama do que para John McCain. Provavelmente é verdade que uma campanha voltada à economia provavelmente favoreceria o candidato democrata em vez do republicano. Mas os dois candidatos também reagiram de forma diferente sob fogo. Nenhum deles ofereceu uma opinião particularmente notável sobre as origens ou a gestão da crise financeira. Mas o comportamento deles foi muito diferente. Os principais lemas para um líder em uma crise financeira são calma, consistência e controle -e Obama contou com os três. Em comparação, as reações iniciais de McCain foram frenéticas e contraditórias.

É claro, todos esses veredictos são altamente provisórios. A política é injusta: sair-se mal em uma crise pode liquidar um político, mas sair-se bem não é garantia de sucesso. No início da crise, era Hank Paulson, o secretário do Tesouro americano, quem era saudado como homem do momento. Agora é a vez de Brown. Se ocorrerem novas surpresas desagradáveis no sistema financeiro mundial, ele também poderá ser atropelado pelos eventos. Brown travou uma boa guerra. Mas mesmo assim ele ainda pode parar no lado perdedor. 

Tradução: George El Khouri Andolfato 

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RESPOSTA

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