Vem dessa impressionante enxurrada de sangue animal o uso residual da expressão. Sempre que ocorre algo parecido com o que ocorreu ontem no mercado de câmbio e na Bolsa brasileira, recorre-se a velhas palavras como essa que, apesar dos exageros, não deixam de dizer alguma coisa.
Ontem foi a primeira vez que a interrupção do pregão da Bovespa aconteceu duas vezes no mesmo dia. Mas o fato que mais refletiu a insegurança aqui foi a disparada das cotações do dólar no câmbio interno, que saltaram no fechamento para R$ 2,20, alta de 7,6% num único dia.
Nessas horas, falta objetividade. Difícil encontrar alguma proporção no comportamento do mercado financeiro. Toda busca de explicação é válida, mas às vezes, como agora, ela não está disponível ou é insuficiente.
A percepção geral é a de que o pacote de salvação dos bancos americanos, de US$ 700 bilhões (e que já saltou para US$ 850 bilhões), pode ser acanhado em relação às necessidades de cobertura. Trata-se de preocupação infundada na medida em que as autoridades americanas se mostraram dispostas a ir ainda mais longe se for preciso. Já não se discute mais se o Estado deve ou não intervir na economia. Ele está metido até o pescoço na crise.
As autoridades européias, estas sim, se mostram excessivamente tímidas. O despencamento do euro, tanto diante do dólar como do iene japonês, justamente quando os mercados procuram um ancoradouro que proporcione reserva de valor, reflete a fragilidade política do bloco.
Mas isso tem a ver com o que aconteceu lá fora e não com o que aconteceu no Brasil. A novidade ruim por aqui é a falta abrupta de crédito externo porque os bancos lá fora estão com o guichê fechado. Essa falta pegou carona na fuga global do risco e na queda dos preços das commodities.
Não há nada de especialmente errado com a economia brasileira. Ao contrário, o País detém reservas de US$ 207 bilhões e possui um sistema bancário que não se deixou contaminar pela infecção das hipotecas.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeram ação do governo para contornar a crise. E as reservas servirão de munição para esse contra-ataque.
A questão cambial parece a mais delicada, não porque haja problema nos fundamentos da economia, mas pelas conseqüências. Não há fragilidade nas contas externas e o Brasil é credor líquido do resto do mundo em dólares.
O governo Lula está, sim, gastando demais e aí há muito o que consertar. Mas não dá para dizer que a área fiscal (relação entre receitas e despesas públicas) esteja colocando o barco em perigo. Afinal, o superávit orçamentário está sendo sustentado e isso significa que há sobra de arrecadação para pagamento da dívida.
O problema está em que fica difícil evitar o impacto inflacionário se a cotação do dólar continuar disparando. É que os preços das commodities consumidas aqui mais os dos importados estão amarrados à moeda americana e, se ela sobe em reais, a inflação sobe em alguma proporção.
Ufa! - Depois da derrubada de 15% com menos de duas horas de pregão, o fechamento de ontem da Bolsa brasileira com baixa de 5,4% foi até um alívio. A falta de referência para o preço dos ativos financeiros parece ter atingido também as ações.