O Estado de S. Paulo |
2/10/2008 |
Afinal, o Senado dos Estados Unidos aprovou o pacote Paulson-Bernanke de socorro aos bancos, cuja essência havia sido rejeitada pela Câmara dos Representantes. As modificações do plano anteriormente rechaçado foram cosméticas. Não foi a falta dessas cláusulas que fez os deputados votarem pelo não na segunda-feira. Eles votaram não propriamente de olho no interesse público, mas de olho nas urnas, num momento em que os eleitores americanos queriam mais é se vingar dos banqueiros, que aprontaram toda a meleca, não confiam nem neles próprios e agora querem que o resto do mundo confie neles. Mas, uma vez completado o primeiro round da vingança, os políticos entenderam que, apesar de tudo, o sistema financeiro, tal como ele é, intermedeia a vida econômica da sociedade e de cada indivíduo. A quebradeira dos bancos, inevitável se alguma coisa muito forte não fosse aprovada, teria tudo para derrubar os clientes dos bancos e os sonhos de melhora de vida econômica que obstinadamente continuam perseguindo. Por isso, é preciso, antes de tudo, salvar os bancos para não brincar com a vida econômica dos americanos e de tanta gente mais no planeta Terra. É um pacote com muitos defeitos, a começar por não ter condições de arbitrar satisfatoriamente os preços pelos quais os tais ativos tóxicos serão resgatados dos balanços dos bancos com o dinheiro do contribuinte. Mas é preciso admitir que ninguém conseguiu apresentar opção melhor. Espera-se que amanhã também a Câmara dos Representantes aprove o texto a ser liberado pelos senadores e o mande para sanção do presidente Bush. Nessas condições, esse é um passo necessário para superar a crise financeira global. Mas, de longe, será insuficiente para normalizar a economia. Os bancos ainda terão de ser capitalizados para que voltem a financiar a produção e o consumo e, assim, recolocar o sistema nos trilhos. E novas regras terão de ser forjadas para que os abusos que ocorreram nos últimos cinco anos, que derrubaram as finanças globais, não se repitam. Não há resposta convincente nem para a recapitalização dos bancos nem para a regulação que ficou inevitável depois do estouro de tantas bolhas. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, entende que será preciso montar uma nova arquitetura financeira global, como a desenhada em 1944 na Conferência de Bretton Woods, que reorganizou o sistema global de pagamentos, criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Mas a proposta de Sarkozy não está sensibilizando os demais chefes de Estado, provavelmente porque é vaga demais e não apontou nenhuma saída concreta que torne o sistema mais confiável. Convém lembrar que, em 1998, o então presidente Bill Clinton se empenhou para que saísse alguma coisa parecida com o que hoje sugere Sarkozy, mas também não foi longe, um pouco por não ter conseguido convencer os demais senhores do mundo e, outro pouco, por falta de clareza sobre o que fazer. Por certo tempo, o mercado financeiro vai respirar aliviado. Mas ninguém garante que, logo a seguir, não se deixe contaminar por novas e impostergáveis aflições. CONFIRA Desaceleração - Para o economista Roberto Teixeira da Costa, hoje no Grupo Itaú, os dois setores do País mais expostos a uma temporada de queda de vendas são o dos imóveis e o dos veículos. Estes são os mais dependentes do crédito, num momento em que os próprios bancos se retrairão, um pouco pela redução da capacidade de endividamento das famílias e, talvez mais, pela escassez de crédito. As linhas externas estão fechadas e os mais interessados vão-se atirando ao rarefeito mercado local. Os exportadores e os agricultores estão entre os primeiros nessa fila. |
Entrevista:O Estado inteligente
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