BRASÍLIA - O escândalo da Gautama ameaçou dois senadores, mas só um acabou arrastado, graças à já famosa tatuagem da borboleta.
Pouco importa que o dono da empreiteira tenha catapultado a folha corrida de obras no Maranhão, com o apoio da família do outro.
O único ministro vitimado pela Operação Navalha foi um anônimo que construiu a trajetória na tecnocracia e ascendeu na política pelas mãos de José Sarney. Tão logo as acusações emergiram, Silas Rondeau entregou o posto. Quebrou a tradição lulista, que prevê meses de afagos antes da degola. O que convenientemente manteve os holofotes afastados do padrinho.
A petista Ideli Salvatti subiu à tribuna e deu shows de contorcionismo em defesa de Renan Calheiros e da coalizão. Roseana Sarney nem na platéia foi vista. A líder do governo, de tão entocada, levou o apelido de Hello Kitty -a gatinha sem boca.
Foi o pai quem operou as defecções na oposição que ajudaram a absolver Renan no plenário -algumas depois convertidas em adesão a partidos da base. Quem pagou o pato foi Aloizio Mercadante, que tocou a flauta do PT no espetáculo.
Os "franciscanos", tidos como renanzistas, jogaram a toalha no momento em que notaram o sumiço de cena do ex-presidente e da filha.
Francisco Escórcio, acusado de espionar a mando de Renan, era assessor especial da presidência do Senado. Mas foi indicado para o cargo por Sarney -assim como, por indicação de Sarney, virou conselheiro de estatal do setor elétrico.
A CPMF era o alvo, e o Planalto negociou pau a pau com a oposição a saída de Renan. Mas não se deve subestimar o papel do ex-presidente. Sarney esteve em todos os lances da crise, ainda que nas sombras.
Saiu inteiro até dos mais perigosos.
Não foi ao jantar que liqüidou o colega só para dar o abraço solidário. O PMDB, o Planalto e o próprio Renan já têm um nome para "pacificar" o Senado mais adiante.
Entrevista:O Estado inteligente
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