Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 04, 2007

Sinais trocados


EDITORIAL
O Globo
4/4/2007

Desde o início da crise dos controladores de vôo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito várias declarações de que não vai mais tolerar que a situação se agrave e, nesses seis meses, tem adotado um jeito particular de negociar, trocando de interlocutores várias vezes. Nesse período, a responsabilidade pela solução da crise mudou de mãos e, invariavelmente, os auxiliares do presidente acabaram publicamente desautorizados. E enfraquecidos.

O primeiro foi o ministro da Defesa, Waldir Pires, amigo de Lula de longa data. Chefe direto dos comandantes das Forças Armadas, Pires foi malsucedido nas suas tentativas de pôr fim ao caos aéreo. Acabou sendo substituído pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Na última sexta-feira, ela estava em Porto Alegre e claramente não se encontrava mais à frente das negociações com os controladores. Dilma também fôra apanhada de surpresa pela paralisação dos aeroportos.

Na sexta-feira, diante do caos, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, deu ordem para prender 18 controladores rebelados. O presidente Lula, em viagem oficial aos EUA, resolveu nomear como interlocutor o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Outras autoridades não estavam mais em Brasília. Ele foi ao Cindacta-1 e, com carta branca do presidente, comprometeu-se com uma medida provisória sobre a desmilitarização do controle de tráfego e garantiu que não haveria punições para os rebeldes.

Com isso, Lula desautorizava o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, cancelando a prisão dos amotinados, determinada pelo brigadeiro.

Não demorou para que os comandantes das Forças Armadas reagissem e alegassem quebra de hierarquia e disciplina. O presidente Lula então recuou e deu sinal verde para o Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pelo Ministério Público Militar. Assim, enfraqueceu Paulo Bernardo, que ontem foi obrigado a voltar à mesa com os controladores para garantir que a medida provisória sai, mas não agora.

Numa sucessão de decisões com sinais trocados, Lula decidiu agradar aos comandantes das Forças Armadas e permitiu então que o brigadeiro Saito negociasse a volta ao trabalho dos controladores de vôo. Nesse momento, ele enfraqueceu novamente o ministro da Defesa, Waldir Pires, colocando um subordinado seu - o próprio brigadeiro Saito - para negociar.

Arquivo do blog