Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Os novos canais internacionais

A versão de cada um

Países lançam emissoras internacionais de
notícias para fazer frente à BBC e à CNN

Reuters
O presidente Putin dá entrevista a jornalista do Russia Today: chapa-branca é apelido

Na semana passada, a França fincou sua bandeira num nicho até então dominado pelos países anglo-saxões: os canais internacionais de notícias. A emissora France 24 entrou em operação com o objetivo de fazer frente à influência da rede inglesa BBC e, especialmente, da americana CNN nessa seara. Quatro anos atrás, às vésperas da Guerra do Iraque, o presidente Jacques Chirac tornou público o desejo de que seu país ganhasse mais peso na "batalha das imagens". A melhor saída, constatou ele, era criar uma CNN à francesa – e com transmissão em inglês, para horror de seus compatriotas. A França não está sozinha nesse tipo de iniciativa. Vários países estão lançando ou se preparam para estrear seus próprios canais internacionais. Como no caso francês, todos querem vender seus pontos de vista sobre as questões mundiais. Há um ano, a Rússia colocou no ar um canal estatal de notícias em inglês, o Russia Today. No mês passado, a rede árabe Al Jazira também inaugurou um canal em inglês. Em 2007, deverá entrar em funcionamento um serviço de notícias pan-africano. A China e o Irã se preparam para seguir a mesma trilha.

Fabi Al-Assad/Reuters
Estúdio da rede árabe Al Jazira: agora, também em inglês


Para o espectador, a diversidade de abordagens não deixa de ser interessante. Mas há problemas à vista. Alain de Pouzilhac, presidente do France 24, já fez críticas à cobertura da Guerra do Iraque pela CNN. Segundo ele, as reportagens da rede corroboram as teses do governo Bush. Mas a verdade é que a CNN é uma emissora privada, com autonomia para defender as opiniões que bem entenda, enquanto os novos canais têm em comum o fato de ser ligados aos governos de seus países. O France 24 receberá do Estado uma "ajuda de custo" equivalente a mais de 200 milhões de reais por ano. A Al Jazira pertence à família real do Catar. Sua versão em inglês, que tem um jornalista veterano da BBC como um dos âncoras, é mais "light" que a original, mas ainda assim tem uma visão simpática aos movimentos radicais islâmicos. O Russia Today, por sua vez, é tão chapa-branca que o presidente Vladimir Putin parece ter lugar cativo entre os entrevistados. Não por acaso, ainda não emplacou em nenhum lugar. "Esse mercado cresce como uma bola de neve. Mas a credibilidade será fundamental para vencer nele", diz Chris Cramer, diretor da CNN Internacional.

Há ainda uma questão de ordem técnica. Como os custos de distribuição são altos, será difícil para a maioria deles conquistar seu lugar ao sol no mercado internacional. É possível que, em alguns países, sua inclusão na programação das redes pagas tenha um efeito adverso: a conta ficará mais salgada para o espectador. No Brasil, nenhuma das novas emissoras consta dos pacotes das operadoras de TV paga – e nem deve constar num futuro próximo.

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