Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O Amor Não Tira Férias, com Cameron Diaz

A narcisista e a desencanada

Ao lado de Cameron Diaz, pode parecer que Kate Winslet é o patinho feio. Ela é o cisne


Isabela Boscov

Divulgação
Cameron e Kate em O Amor Não Tira Férias: uma se produz, a outra aproveita o café com chantilly

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Trailer do filme

Quando uma estrela começa a usar outras atrizes como "escada", é sinal de que algo não vai bem. Pior, então, se isso começa a virar hábito, como no caso de Cameron Diaz. No drama Em Seu Lugar, ela se valia da solidez da australiana Toni Collette para amparar suas gracinhas como uma moça linda e adoravelmente neurótica (para quem acha que isso existe). Na comédia romântica O Amor Não Tira Férias (The Holiday, Estados Unidos, 2006), que estréia nesta sexta-feira no país, ela tenta repetir a jogada para cima da inglesa Kate Winslet. Tenta, apenas. Primeiro, porque Kate não é mulher de posar de "second banana" – como descreve o jargão da indústria – para ninguém. Segundo, porque, se o cinema tem hoje um exemplo a oferecer às mulheres sobre como conduzir sua carreira, esse exemplo está longe de ser Cameron. Ele é, indiscutivelmente, Kate, que roda os filmes que quer, com quem quer (nos dois casos, ela faz boas escolhas), e fica cada vez melhor. Tudo isso – atenção – vestindo um manequim de mulher provável, e não de mulher impossível.

O número do manequim é item indispensável quando o assunto é Kate, porque poucas jovens atrizes foram tão vilipendiadas, em tablóides e não só neles, por causa de suas medidas ocasionalmente generosas – como se fossem muito mais do que isso, aliás. Depois de Titanic, em especial, falar que Kate estava gorda virou lugar-comum. Não é fácil resistir a uma pressão tão intensa e constante quando se tem apenas 21 anos, mas Kate não cortou os carboidratos da dieta. Passada quase uma década, verifica-se seu bom senso. Perder alguns centímetros talvez tivesse multiplicado as ofertas de papéis naquela ocasião; mas eles não seriam os papéis consideravelmente mais interessantes que ela interpretou para diretores exigentes quanto a talento e indiferentes quanto a circunferências – como em O Expresso de Marrakesh, Iris, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Em Busca da Terra do Nunca e no excelente Pecados Íntimos, ainda inédito no Brasil.

Em defesa de Cameron, é preciso dizer que expor-se à comparação com uma das atrizes mais sensacionais e preparadas de sua geração deve ter exigido coragem. A qual, aliás, não é honrada pela diretora Nancy Meyers. Em O Amor Não Tira Férias, tanto Iris (Kate), jornalista londrina, quanto Amanda (Cameron), montadora de trailers de cinema, estão curtindo a ressaca de relacionamentos rompidos. Embora não se conheçam, elas combinam pela internet trocar de casa por duas semanas. Iris vai para o sol de Los Angeles, aproveitar a mansão com piscina de Amanda. E Amanda ruma para o inverno inglês e a pitoresca, mas exígua, casa de Iris. Claro que não se passa um dia até que um novo pretendente bata à porta de ambas. Cameron sorteia Jude Law, enquanto Kate ganha Jack Black. Essa demonstração explícita de darwinismo amoroso poderia até passar despercebida, não fosse a falta de apoio da diretora à interpretação de Cameron – que, deixada à própria sorte, soa irremediavelmente narcisista e vazia, enquanto Kate só faz ficar mais encantadora. É um cisne que, por cegueira, andaram chamando de patinho feio.

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