O Globo |
15/12/2006 |
O Brasil vai terminar o ano de 2006 com um paradoxo a nos perturbar: melhoramos em diversos aspectos, do social a índices econômicos como o risco-país, mas perdemos posição em todos os rankings internacionais em comparação não apenas aos países emergentes, que competem diretamente conosco numa economia globalizada, mas até mesmo para países menos desenvolvidos. As estatísticas deste ano se encarregaram de demonstrar como é falsa aquela afirmação do presidente Lula de que não devemos nos comparar com os outros, mas apenas conosco mesmos. O relatório anual Situação Mundial da Infância do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), por exemplo, mostra que o Brasil avançou na melhoria da condição de vida de suas crianças, mas mesmo assim perdeu posições para países mais pobres, como Belize, na América Central, ou Ilhas Salomão, na Oceania. Desde 2003, já perdemos sete posições no ranking que trata da mortalidade de crianças menores de 5 anos. O Brasil está em 86º lugar numa lista de 190 nações, isso porque a cada grupo de mil crianças brasileiras nascidas vivas, 33 morrem antes de completar 5 anos de idade, enquanto no ano passado esse número era de 34 crianças mortas a cada mil. Nesse ranking, quanto melhor a situação, mais próximo o país fica do final da lista. Na América Latina, entre 21 países, o Brasil é o 15º. Estamos atrás não apenas da Argentina, Uruguai e Chile, mas também de países como a República Dominicana. E perdemos posições porque Belize, por exemplo, que aparecia atrás do Brasil na 81ª posição, pulou para a 125ª. E já estamos sendo alcançados pelo Egito. O governo contestou os dados, afirmando que os números oficiais são outros, mas apresentou estatísticas de 2004. As estimativas oficiais do Ministério da Saúde são de uma taxa de mortalidade infantil (até 1 ano) de 22,58 óbitos por mil nascidos vivos, e uma taxa de mortalidade na infância (até 5 anos) de 26,85 óbitos por mil nascidos vivos, e o governo garante que não houve aumento dos índices entre 2002 e 2004. A velocidade relativamente baixa dos avanços do país aparece em vários levantamentos, desde os índices de competitividade ao IDH, que avalia a qualidade de vida dos países e é medido pelas Nações Unidas. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano melhorou, passando de 0,788 para 0,792, o que não impediu que fôssemos superados pela Bielo-Rússia, perdendo uma posição no ranking geral, passando de 68ª para 69ª. Estamos também perdendo terreno frente aos demais países emergentes que disputam os mesmos interesses que nós. Um estudo da Câmara Americana de Comércio, elaborado em parceria com a organização Movimento Brasil Competitivo, colocou o México ao lado dos quatro emergentes que, num estudo de 2003 da consultoria Goldman Sachs, foram considerados os mais prováveis ocupantes de lugares de destaque na economia globalizada e passaram a ser conhecidos como Brics, sigla formada pelas primeiras letras dos quatro destaques, Brasil, Rússia, Índia e China. A performance econômica do Brasil desde então já faz com que muitos especialistas considerem que a sigla deve perder o B, enquanto outros já estão dedicados a estudar a Chíndia, união da China com a Índia, os países que realmente vêm dando certo. O brasilianista Albert Fishlow, da Universidade Columbia, é quem defende a inclusão do México nessa lista, formando o Bric-M. No estudo, embora a economia mexicana esteja no mesmo nível da brasileira, o México apresenta uma tendência de melhorar mais rapidamente. Segundo esse estudo, o Brasil perdeu posições em 14 de 24 indicadores utilizados para avaliar sua competitividade frente às outras economias emergentes, isso entre 2000 e 2006. Para desânimo do presidente Lula, embora tenhamos melhorado na comparação conosco mesmo, progredimos menos em relação aos demais. O "Painel de Competitividade 2006" avalia desde itens como custo de capital, inclusive fatores como risco soberano e taxa real de juros; até fatores institucionais, como insegurança jurídica, carga tributária e percepção de corrupção. São analisados também os custos operacionais, como a capacidade de infra-estrutura. No chamado índice composto, formado pelos 24 indicadores, o Brasil ficou em 4º e último lugar, empatado com o México, com desempenho classificado de "especialmente insatisfatório" quando se trata do custo fiscal, institucional e também o operacional. Apresentamos melhora em apenas dois indicadores, quando comparados com nossos concorrentes: leis trabalhistas e funcionamento da Justiça, e nesse caso não porque tenhamos evoluído, mas porque pioramos menos que a Índia. Nossos resultados têm causas, e também são conseqüências, do fraco crescimento econômico. Segundo o relatório "Perspectivas Econômicas Globais de 2007", divulgado recentemente pelo Banco Mundial (Bird), os países em desenvolvimento vão ter um crescimento médio de 7% em 2006, uma das taxas mais altas da História. Dos cerca de 120 países emergentes, nada menos que 75 vão crescer mais que 5% este ano, enquanto o Brasil crescerá 2,8%, sonhando com os 5% praticamente impossíveis para o próximo ano. E, como no ano passado, continuará só crescendo mais que a economia do Haiti. No período do primeiro mandato de Lula, o PIB brasileiro cresceu 2,6% ao ano em média, enquanto a economia da América Latina cresceu no mesmo período a uma média de 4% ao ano, e o crescimento mundial foi de 4,8% ao ano. Estamos ficando para trás. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, dezembro 15, 2006
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