Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 21, 2006

A farsa de Gaddafi


EDITORIAL
Folha de S. Paulo
21/12/2006

HÁ TRÊS ANOS, o ditador líbio, Muammar Gaddafi, reconhecia possuir armas de destruição em massa e se comprometia a destruí-las. Pretendia recolocar o país, que acabara de sair de uma década sob embargo da ONU, na comunidade internacional. Os mais crédulos viram aí um sinal de que as coisas estavam mudando para melhor na Líbia. Não era verdade, infelizmente.
A farsa judicial encenada nos tribunais líbios que condenou cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino à morte prova que a natureza do regime permanece a mesma.
A acusação contra os réus é absurda: teriam deliberadamente infectado com o vírus da Aids 426 crianças líbias enquanto trabalhavam num hospital de Benghazi. Segundo a tese fantasiosa da Promotoria, os acusados estariam, a soldo de laboratórios estrangeiros, investigando a cura da Aids com cobaias humanas.
A farsa foi refutada cientificamente por três diferentes trabalhos conduzidos por respeitados especialistas internacionais. Todos os estudos mostram que o surto de infecções teve início pelo menos três anos antes de as enfermeiras começarem a trabalhar no hospital e continuou depois que elas foram presas.
Gaddafi recorre ao já clássico expediente das ditaduras de lançar contra um "inimigo externo" a responsabilidade de sua própria incompetência. O líder líbio, porém, não parece disposto a voltar a desafiar o mundo. Dá sinais de que cogita conceder perdão aos acusados. Já acenou que o preço para fazê-lo é de R$ 28 milhões por criança mais a libertação de Ali Megrahi, o agente secreto líbio condenado pela explosão de um Boeing-747 da Pan Am sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988.
O chantagista Muammar Gaddafi pode ter mudado na fachada, por pura conveniência, mas continua chefiando um dos regimes mais odiosos do planeta.

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