Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Eliane Cantanhede - Deixem o homem trabalhar!




Folha de S. Paulo
21/12/2006

Guido Mantega fica. Henrique Meirelles fica. Apesar da expectativa gerada pelos 60% de votos na reeleição, nada indica que haverá grandes mudanças, boas ou ruins, no segundo mandato.
Se há mudanças, são nos índices de crescimento para 2007. Começaram em 5%, já caíram para 3,8% antes mesmo de o ano começar e tendem a seguir o mesmo caminho dos índices de 2006, que foram desmilingüindo, desmilingüindo e... desmilingüiram.
Mas o governo tem sorte. Aliás, Lula tem sorte. Sempre teve, desde que começou a fazer política sem se dizer político, a ter apoio da esquerda sem se dizer de esquerda. Pode reduzir o quanto quiser a previsão de crescimento, porque ninguém está interessado em números. Quer dizer: nesses números abstratos, os do crescimento.
Toda a opinião pública só tem olhos para os números do Congresso: aumento de 91% nos salários, o veto do Supremo, a falta de acordo entre os líderes, todo mundo batendo cabeça para decidir um novo índice de aumento, o corte ou não de vantagens extras, se a decisão deveria ser em 2006 ou em 2007.
Mais uma vez -e como desde o início do primeiro mandato-, Lula é salvo, ora pelo Congresso, ora pelo PT. Mensalão? Crucifique-se quem estava sendo comprado, esqueça-se quem estava comprando. Cuecas, dólares, Land Rover, compra de dossiê contra adversários? Crucifique-se o partido, esqueça-se o presidente (que é do partido).
É evidente que Lula não tem nada a ver com os aumentos que os parlamentares se autoconcederam no apagar das luzes desta legislatura. Mas não é demais dizer que esse tipo de Congresso e esse tipo de coisa bem que convêm a ele. Opinião pública, horrorize-se com o Legislativo, esqueça-se do Executivo. Crescimento? Emprego? Parem com essas cobranças bestas. Concentrem-se no Congresso. E deixem o homem trabalhar!

Arquivo do blog