Novo método de análise revela em que
cidades é maior o consumo de coca
Denise Dweck
Kathy Willes/AP |
O RIO DA COCA O Hudson, em Manhattan: vestígios de cocaína nas águas |
Uma maneira eficaz de descobrir os hábitos de uma pessoa é vasculhar o seu lixo doméstico. Seguindo um princípio semelhante, o Instituto para Pesquisa Biomédica e Farmacêutica, de Nuremberg, na Alemanha, analisou a água dos rios de 24 cidades da Europa e dos Estados Unidos em busca de uma informação difícil de conseguir por métodos convencionais: o tamanho do mercado local de cocaína. O resultado da pesquisa colocou Nova York como a campeã mundial, com o consumo de 16,4 toneladas da droga por ano. A quantidade surpreende, pois está muito acima das estimativas oficiais feitas com base nas apreensões da droga (2 toneladas por ano) em todo o estado de Nova York. Outro dado inesperado é o grande consumo per capita nas cidades espanholas. Por esse critério, a pouco conhecida Miranda de Ebro, no norte da Espanha, só perde para Nova York. Nesse caso, a explicação seria o papel desempenhado pela Espanha como porta de entrada do narcotráfico na Europa.
Para o estabelecimento do nível de consumo de cocaína nas cidades, os pesquisadores alemães usaram critérios que misturam estimativas matemáticas com análises químicas baseadas na concentração de uma substância, a benzoilecgonina, nas águas servidas. A benzoilecgonina está presente na urina dos consumidores da droga e é levada pelos esgotos para os rios. Em Nova York, as amostras analisadas foram retiradas do Hudson, o rio que forma a divisa entre a ilha de Manhattan, em Nova York, e o estado de Nova Jersey. "Quando uma pessoa usa a droga, a cocaína vai para o sangue e passa por várias partes do corpo até chegar ao fígado, onde é quebrada e depois eliminada pela urina", explicou a VEJA o alemão Fritz Sörgel, coordenador do estudo e diretor do instituto. O principal subproduto dessa quebra é a benzoilecgonina. As coletas de amostras foram feitas de quinta-feira a sábado para evitar as variações do fim de semana, quando o uso da droga é maior.
Miguel Riopa/AFP |
Cocaína apreendida na Espanha: país é porta de entrada da droga na Europa |
O grau de concentração da substância na amostra foi então multiplicado pelo volume de água na região e, por meio de uma fórmula específica, calculou-se quanto de cocaína representa uma determinada quantidade de benzoilecgonina. Utilizando dados da população cujos dejetos são jogados nos rios, os alemães chegaram ao consumo por grupos de 1 000 habitantes. Os pesquisadores usaram um método adicional para estimar o uso da droga em relação à população: a análise das notas de euro (a moeda comum européia) e de dólar. Enroladas, elas são usadas para cheirar as carreiras de cocaína, e é possível identificar os resíduos da droga nas cédulas.
Não é surpresa que os maiores centros consumidores de drogas estejam entre as cidades mais cosmopolitas, com população numerosa e variada e vida noturna intensa. "São lugares onde a pressão do dia-a-dia é grande e as pessoas usam a cocaína como estimulante para trabalhar ou se divertir", explica o sociólogo americano Craig Reinarman, da Universidade da Califórnia. O consumo elevado também pode ser explicado pela queda à metade do preço nos últimos quinze anos. A droga mais barata é reflexo do aumento da produção mundial de 774 toneladas em 1990 para as atuais 910 toneladas, segundo estimativa da ONU. "Na Europa, a cocaína está deixando de ser uma droga exclusiva dos ricos", disse a VEJA o criminologista e antropólogo belga Tom Decorte, do Instituto para Pesquisa da Droga Social da Universidade de Ghent, na Bélgica.
Daniel Munoz/Reuters |
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