Dora Kramer |
O Estado de S. Paulo |
12/12/2006 |
Conselho político em geral provoca divergência e não produz consenso Na quarta-feira o presidente Luiz Inácio da Silva abrirá os trabalhos de seu conselho político, cujo propósito é a construção periódica de consensos entre os oito partidos integrantes de sua base de apoio no Congresso. A estréia é fácil, até aí seu antecessor também chegou. O difícil é dar continuidade ao processo de articulação política colegiada sem que isso signifique mais transtornos que soluções. Tanto no primeiro como no segundo mandato, Fernando Henrique Cardoso criou essa instância de discussão, mas não conseguiu que ela prosperasse. E o conselho de FH não foi em frente justamente por um problema que Lula terá de administrar já no encontro inaugural: o conflito de interesses entre os partidos e, destes, com o presidente da República. O que importa para uma das partes em geral não interessa à outra e vice-versa. O grupo é conflituoso em si. O colegiado que se reúne na quarta-feira é integrado por PMDB, PT, PSB, PC do B, PL, PR, PDT e PV. Nestes últimos, as estrelas - Cristovam Buarque e Jefferson Peres, no PDT, e Fernando Gabeira, no PV - estão contra a aliança, preferem ficar na oposição. Outros partidos, PTB e PP, estão na base, mas ficam fora do conselho. Por uma questão de imagem, já que protagonizaram o escândalo do mensalão e não ficaria bem receberem assento em fórum de discussão palaciano. Poderiam argumentar que em matéria de escândalos ninguém foi mais protagonista que o PT, mas preferem não criar problemas, cientes da pouquíssima utilidade prática do conselho. De qualquer forma, o fato de servirem para apoiar, mas não servirem para conversar e posar para fotografia deve provocar reações de desagrado. Vale lembrar que no primeiro período de FH o conselho se inviabilizou justamente porque o PTB, tido como o patinho feio da coligação, não foi convidado. Mas o desacerto fundamental não vem daí. Vem dos dois principais aliados, PT e PMDB. A começar pelo fato de serem os pesos pesados da dita coalizão, o que já desequilibra a correlação de forças interna e deixa os outros integrantes do conselho na condição de figurantes. Ambos disfarçam, fazem aquele discurso da atenção primordial às diretrizes para o segundo mandato, mas estão aflitos mesmo com dois assuntos: formação do ministério e presidência da Câmara dos Deputados. Só pensam nisso e é exatamente sobre isso que o presidente Lula não quer tratar numa mesa de debates. Dos ministros não falará porque continua disposto a encaminhar essa agenda o mais longe possível do debate público. Não é de se imaginar que Lula abra o jogo com os partidos todos juntos. No momento seguinte, a base estaria esfrangalhada. Sobre a Câmara também deve manter reserva, apesar da ansiedade do PT para que Lula dê alguma indicação explícita de apoio às pretensões do PT de voltar a comandá-la. Mas isso não fará e por dois motivos: para dissimular a influência do Planalto em assuntos teoricamente atinentes apenas ao Congresso e para não chamar a si a responsabilidade por eventuais derrotas. Então, o que vão conversar os partidos e o presidente na abertura dos trabalhos do conselho? Nada de muito produtivo. Não tomarão, porque não tomam nunca, a iniciativa de dizer o que querem e vão ouvir de Lula um pedido para que evitem brigar entre si, de modo a não facilitar a vida da oposição. Devem sair do encontro também com uma bonita pauta de trabalho, cuja utilidade e continuidade só poderá ser comprovada quando, e se, o conselho marcar uma segunda, e depois uma terceira, reuniões. Boca pequena Não é assunto que se comente em público, mas entre as várias paredes da Câmara é fato conhecido que Paulo Delgado, candidato governista à vaga no Tribunal de Contas da União, não perdeu sozinho: a derrota teve discreta ajuda do presidente Aldo Rebelo. De lá para cá, a candidatura do petista Arlindo Chinaglia desidratou-se. Vale-tudo Para acalmar o stress e ajudar a enfrentar a longa espera pelos vôos, os passageiros lêem, comem, ouvem música, trabalham ou se distraem com seus laptops e agora também fumam. Vários acenderam cigarros sexta-feira passada na sala de embarque do aeroporto de Brasília, um deles sentado no chão, encostado à parede abaixo do aviso de proibido fumar. Não apareceu ninguém para fazer cumprir a restrição. Se aparecesse, os fumantes já tinham discurso pronto a respeito de infração de normas. Quando as autoridades subvertem a ordem primeiro, o "liberou geral" é a reação natural. A indiferença à proibição ao fumo é o menos danoso dos comportamentos possíveis nos aeroportos diante da absoluta ausência de apreço aos direitos, senão do cidadão, ao menos do consumidor. As festas de fim de ano se aproximam, as férias escolares já começaram e até agora os responsáveis pelo tráfego aéreo, incluindo as companhias, nada fizeram além de manifestar "preocupação" com os atrasos nas vésperas do Natal. Dora Kramer, dora.kramer@grupoestado.com.br |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, dezembro 12, 2006
Dora Kramer - Conflito de interesses
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