Celso Ming |
O Estado de S. Paulo |
12/12/2006 |
Ontem, o economista-chefe da Goldman Sachs, Paulo Leme (foto ), advertiu que não há no Brasil nem vontade nem disposição política para perseguir crescimento econômico de 5% ao ano. Como não há brasileiro que não queira um bolo aumentando mais de 5% a cada ano, muita gente poderia estranhar observações assim. Leme esclarece melhor as coisas quando argumenta que não há crescimento econômico a 5% ao ano se também não houver investimento da ordem de 25% do PIB (tem sido da ordem de 22%) e se não houver redução da dívida pública para a casa dos 30% do PIB (hoje, está a 50%). Como uma coisa puxa a outra, esses objetivos só serão possíveis com redução substancial da carga tributária, aumento do superávit primário e, naturalmente, aprovação de reformas que viabilizem tudo: reforma da Previdência, do sistema tributário, das leis trabalhistas, da Justiça... e assim vai. Ao enunciar assim as suas prioridades, o professor Paulo Leme tirou do bolso a carteirinha de economista alinhado à corrente fiscalista, os que entendem que a principal trava do crescimento econômico é a gastança do setor público, que empurra a dívida lá para cima, exige juros altos, comprime o investimento e, obviamente, não deixa o País crescer. Esse diagnóstico não é consensual no Brasil porque a outra corrente, a desenvolvimentista, prega um corte linear dos juros, sem muitos escrúpulos técnicos, e uma desvalorização cambial imediata que compense o elevado custo Brasil e aumente, assim, a competitividade da indústria. Essa segunda corrente tende a tirar importância à questão fiscal. Argumenta que, uma vez assegurado o crescimento, ficaria bem mais fácil combater a inflação que daí proviesse e, junto com ela, todos os rombos do Tesouro. Mas até agora quem pensa assim ainda não apresentou nenhuma proposta de como fazer isso e como se acomodariam num desenho novo todos os cômodos da casa: câmbio flutuante, política de metas de inflação, fluxo de capitais e uma balança comercial cujo superávit ficará reforçado, porque a desvalorização do real estimulará ainda mais as exportações e tenderá a conter importações. Há 13 anos, a política econômica prevalecente deu prioridade à derrubada da inflação, projeto hoje quase inteiramente conquistado, uma vez que o Brasil tem uma estabilidade de preços típica de país civilizado. Seus objetivos imediatos consistem na conquista do grau de investimento (credibilidade máxima dos títulos de dívida), inserção na economia global e aumento da competitividade. E, também há 13 anos, foi em torno desse programa, que alguns preferem chamar hegemônico, que se construiu um consenso político mínimo. O problema é que essa fórmula limita o crescimento aos históricos 3% e quebrados ao ano. Se é para crescer mais, não há convergência nem no diagnóstico nem na quantidade de ovos que precisariam ser quebrados para fazer a omelete. O que dá para dizer é que há uma nova percepção, que é mais uma dúvida do que uma tomada de consciência. Aos poucos, vai sendo criada uma tênue consciência de que não são nem os juros altos nem o câmbio baixo demais os principais responsáveis pelo pífio crescimento. Quando disse que é preciso remover as travas ao crescimento de 5% ao ano, em nenhum momento o presidente Lula afirmou que era preciso derrubar os juros ou endireitar o câmbio. Mencionou travas ambientais, embargos judiciais para tocar as obras e, em certa medida, a excessiva carga tributária para alguns setores da economia. Mas o presidente não se dispõe a ir além. Quer transformar a Eletrobrás em Petrobrás da energia elétrica, sem dizer de onde vai tirar o dinheiro para os investimentos e sem apontar como vai combater o risco de apagão. Admite uma cirurgia plástica na Previdência Social, mas não aceita reformas que, na prática, impliquem perdas ou para o trabalhador, na condição de contribuinte, ou para o futuro aposentado. Infelizmente, quando se expressa assim, Lula não é apenas Lula. É a sociedade brasileira que não abre mão do tratamento indolor, mas depois não se contenta com o crescimento econômico medíocre. Em outras palavras, Paulo Leme tem razão. Falta determinação e vontade política para crescer 5% ao ano. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, dezembro 12, 2006
Celso Ming - A omelete e os ovos
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