Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, dezembro 20, 2006

De costas para a opinião pública (Por Lucia Hippolito)


No dia 08 de março de 2006, o plenário da Câmara dos Deputados se reuniu para apreciar o pedido de cassação do mandato do deputado pefelista Roberto Brant, acusado de ter recebido mais de R$ 100 mil do valerioduto.

Em seu discurso, disse o deputado mineiro:

"Sempre achei que devemos satisfação ao povo brasileiro, não à opinião pública. E essas duas entidades não se confundem. (...) Temos de aprender a encarar a opinião pública. A opinião pública não é o povo, é muito menor do que ele, a opinião pública não acerta sempre. Várias vezes na história a opinião pública estava equivocada"...

E por aí foi, incitando a Câmara a desprezar a opinião pública, a dar as costas à sociedade brasileira.

Foi obedecido. Não apenas o seu mandato foi salvo, mas seu argumento serviu para salvar o mandato de mensaleiros contumazes e, posteriormente, de livrar sanguessugas apanhados com a boca na botija.

Um argumento equivocado, mas respeitável, passou a servir de álibi para todos os malfeitores que precisavam salvar seus mandatos.

Os políticos brasileiros decidiram se rebelar e desqualificar qualquer protesto da opinião pública.

Algumas dessas "Excelências" voltam ao Congresso em 2007, reeleitos. Confundindo banho de urna com pia batismal, políticos brasileiros preparam-se para mais quatro anos de alegres folguedos com o dinheiro do contribuinte.

Esse desprezo pela opinião pública explica boa parte da atitude dos parlamentares no recente caso do escandaloso aumento de quase 100% nos próprios subsídios.

Cegos e surdos aos protestos que não páram de crescer na sociedade brasileira, suas Excelências marcham alegremente para o abismo, na maior desfaçatez.

A indignação é tão grande, que até mesmo organismos como CUT e UNE, que estavam anestesiados pelos vultosos recursos públicos que recebem da União, desde o início do governo Lula, despertaram de seu sono esplêndido para se manifestar contra o aumento abusivo.

Para hoje, estão marcados protestos em várias cidades. Cidadãos colhem assinaturas pela Internet, internautas enviam mensagens a deputados e senadores.

Gostem ou não, esta é a opinião pública.

Deputados e senadores, que gastaram rios de dinheiro na eleição de outubro, entendem que o eleitorado os compreendeu, os apoiou, os absolveu. Tremendo equívoco.

Numa hora em que o próprio presidente da República afirma que "o povo humilde não precisa mais de intermediários para saber em quem votar", numa hora em que cresce cada vez mais a indignação, e muitas pessoas já se perguntam "para que, diabos, precisamos de um Congresso?", é a opinião pública que compreende a importância do Legislativo para a estabilidade democrática, é a opinião pública que vai sair às ruas defendendo a existência do Congresso Nacional.

Em que pese ser esta a pior legislatura de toda a História parlamentar brasileira – não apenas a mais corrupta como também a mais medíocre –, é melhor um Congresso aberto, mesmo este, do que Congresso nenhum.

Talvez Suas Excelências não devessem voltar às costas à opinião pública brasileira.

Ela pode ser a tábua de salvação do Legislativo.

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