O aeroporto de Salvador, confirma a IstoÉ desta semana, figura entre as altas prioridades do governador eleito da Bahia. Nada a ver com o colapso da aviação civil. Jaques Wagner não está interessado no calvário das multidões de passageiros reduzidas a rebanhos humanos. Não o preocupam atrasos nos pousos e decolagens, partidas canceladas, o descaso das empresas. Tampouco a obsolescência dos equipamentos ou a rebelião dos controladores de vôo.
O que incomoda o candidato triunfante do PT é o nome do lugar: Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães. Há quase 10 anos, o antigo Aeroporto 2 de Julho foi rebatizado pelo Congresso Nacional, em homenagem ao notável político precocemente morto. Um dos mais jovens presidentes da história da Câmara, articulador excepcional, devoto do convívio dos contrários, Luís Eduardo foi um dos pais das reformas que modernizaram o Brasil nos anos 90.
Ao morrer em 1998, tinha no horizonte a vitória certa na disputa do governo baiano e, mais além, a candidatura à sucessão presidencial pela aliança PSDB-PFL. Com fundadas razões, o Parlamento resolveu, por unanimidade, eternizar-lhe a memória na porta de entrada da Bahia.
Pois Jaques Wagner quer de volta o 2 de Julho. "Não se troca a saga de um povo por uma homenagem a quem quer que seja", discursou para o repórter da revista. Conversa fiada. Se o homenageado fosse qualquer ex-presidente da Câmara companheiro - um Severino Cavalcanti, um João Paulo Cunha, um Aldo Rebelo - o futuro governador não estaria brincando de zelador da data oficial da independência da Bahia.
Ocorre que Luís Eduardo Magalhães é filho de Antonio Carlos Magalhães, e o senador é a grande referência política e pessoal do governador eleito. Jaques Wagner não vive sem ACM. Passou a campanha jurando que faria tudo ao contrário do que fez e faz o Grande Satã do PT baiano. Vitorioso, passa o tempo buscando maneiras de exorcizar seus fantasmas.
Além do aeroporto, atormenta Jaques Wagner o Memorial Luís Eduardo Magalhães, erguido em Salvador por amigos e parentes do deputado. "É uma aberração que nós vamos ter que resolver", exaspera-se. Já avisou que a PM desativará o esquema de segurança que protege o memorial, onde está guardado numa caixa o coração de Luís Eduardo. Parece-lhe pouco. O novo regente da Bahia preferiria botá-lo abaixo.
Nos tempos de ministro, Jaques Wagner costumava indignar-se com alusões ao rapidíssimo enriquecimento de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, primogênito do presidente da República. "Atacar alguém para atingir o pai é apenas uma manobra política sórdida", repetia. Aparentemente, a frase só vale para filhos muito vivos de amigos. Com o filho morto do adversário, vale tudo.
Governadores eleitos têm programas, projetos. Jaques Wagner tem uma obsessão. Convém que desça do palanque e tome juízo. Se mantiver a opção pelo rancor, se prosseguir no elogio da mesquinhez, não merecerá mais que um asterisco nos livros de história regional. Será lembrado não como um fato político, mas como um caso clínico.
Entrevista:O Estado inteligente
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